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segunda-feira, 8 de abril de 2019

PESQUISADORA FRANCANA DE IMPORTÂNCIA MUNDIAL É ENTREVISTADA PELO JORNAL DA CIÊNCIA: ELA MOSTRA A FORÇA DA MULHER TAMBÉM NESTE SETOR E A NECESSIDADE DE MUDAR E AVANÇAR O BRASIL

Um apoio maior à pesquisa poderá mudar a realidade brasileira a bem de toda a população ajudando a resolver alguns problemas de hoje em dia em todas as regiões e setores do país na opinião do Folha Verde News




Drª Joana D'Arc Félix de Sousa



Pós-doutorada em Química pela Universidade de Harvard, a educadora Joana D’Arc Félix de Sousa acumula prêmios nacionais e internacionais por suas pesquisas e projetos de inovação tecnológica. Tudo começou quando ela era bem pequena, uma menina curiosa, que aprendeu a ler procurando palavras em um jornal. Seu encanto pela química aconteceu ao ir com o pai no curtume onde ele trabalhava e assistir um funcionário manipulando produtos químicos em um laboratório, vestindo um jaleco branco. A gente resume aqui no blog da ecologia e da cidadania a entrevista que Drª Joana deu ao Jornal da Ciência contando a sua trajetória e o trabalho que vem desenvolvendo,  algo que inspira meninas pelo país afora. Confira a seguir aqui no Folha Verde News alguns dos principais trechos da entrevista no veículo de comunicação dos cientistas brasileiros.


Aqui quando entrevistada por Mirian Leitão/GloboNews


Pesquisadores andam enfrentando este fantasma...


Jornal da Ciência – Quando descobriu que queria estudar Química? Joana D’Arc Félix de Sousa – Eu nasci em Franca, (400 km de São Paulo, capital) e o forte da cidade é o setor coureiro calçadista - a cidade tem mais de mil fábricas de calçados, em torno de 10 curtumes - e meu pai começou a trabalhar num deles com 12 anos, em serviços gerais. Lá havia um químico que usava jaleco branco e eu achava o máximo. Eu cresci dizendo que queria ser química, trabalhar no curtume e usar jaleco branco. Eu achava que química era só trabalhar em curtume. Com 14 anos passei no vestibular para três universidades - USP, Unicamp e Unesp. Foi na graduação que eu descobri que a química tem diversas áreas, uma imensidão cultural.



Ela quebrou muitas barreiras e hoje...

...se tornou uma das cientistas mais importantes também para o meio ambiente segundo a própria ONU


Vítima de bullying - "No primário não. Fiz o SESI e só os filhos de operários estudavam ali, então nunca sofri nenhum problema de preconceito racial. Mas era longe de casa, então quando eu fiz seis anos fui para outra escola, mais próxima. Era uma escola do estado, muito boa, bastante elitizada, vários filhos de empresários estudavam lá. Havia uma separação das crianças por classe social e eu fui parar na 3ª série “F”. Foi nessa escola que comecei a conhecer as piores formas de racismo e preconceito, com xingamentos e zombarias".



Um resumo da trajetória de Drª Joana 

Você pesquisador, agende aí


Sabedoria - "Um dia cheguei em casa, contei para o meu pai e disse que não queria mais ir para aquela escola. Meu pai: “Você vai ficar, vai ser a primeira aluna da escola e mostrar que vai ser alguém na vida”. Eu agradeço muito aos meus pais, porque apesar de praticamente analfabetos, eles tinham sabedoria para nos estimular a continuar estudando. Fiquei até a oitava série, mas como não havia ensino médio, eu fui para outra escola e já não tive tantos problemas".



Cientista com grande valor socioambiental e cultural

Do seu laboratório em Franca para a mundo


Fora de Franca - "A faculdade era em período integral e então procurei uma pensão sem refeição. Eu comia no bandejão na faculdade, mas no jantar e finais de semana eu comia pãezinhos que as funcionárias de restaurantes separavam para mim. As pessoas comentavam, cochichavam, até riam, mas uma coisa que aprendi na vida foi que quando a gente precisa, não pode ter vergonha de pedir. No segundo semestre comecei a fazer iniciação científica, uma professora me arrumou uma bolsa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e as coisas começaram a mudar bastante. Porque com o dinheiro da bolsa dava pra eu pagar o pensionato e ainda mandava às vezes 80 ou 100 reais para minha mãe, para ela diminuir o ritmo de trabalho. Também diminuiu o sufoco do meu pai, que me mandava dinheiro para pagar a pensão".



Uma das centenas de homenagens (na TV Futura)



Universidade de Harvard  - "No doutorado, meu orientador disse que tinha uma parceria com um professor na Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, e muitos dos alunos dele ficavam um ano lá. Me disse que seria interessante que eu fosse, mas que ele entenderia se eu não quisesse ir porque lá é a região mais racista dos Estados Unidos. Eu conversei com meu pai naquela noite e ele disse “vai! Você não pode perder nenhuma oportunidade”. E fui, só que foi o pior ano da minha vida! Recebi muitas agressões verbais, me xingaram, até chutaram a porta do meu alojamento. Eu tinha muito medo. Pensei em voltar, mas segurei, fui firme e forte. Na minha última semana no curso, já para voltar ao Brasil, recebi um convite para estudar em Harvard, para fazer um projeto na área ambiental".




No laboratório da ETEC que ela revolucionou

 Homenageada também entre outros líderes do movimento negro do Brasil 



E começou um novo caminho - "O meu projeto na Universidade de Harvard foi o desenvolvimento de enzimas para o aproveitamento de resíduos industriais gerados pelo setor coureiro e calçadista. Então, outra coisa que aprendi na vida é não desistir, independente do obstáculo. Se eu tivesse desistido, não teria recebido o convite para o pós-doc em Harvard. Morei em Boston e lá não tive qualquer tipo de problema em relação à minha cor. Meu sonho era ficar trabalhando em Boston. Achava que nunca mais voltaria para o Brasil e para Franca. Só que depois de um ano e meio de pesquisa, em um mês faleceram minha irmã e meu pai".



A luta desta mulher é exemplar e célebre 


Drª Joana D'Arc Félix de Sousa - "Minha mãe não quis sair de Franca. Depois de 30 a 40 dias que eu estava em Franca, vi o concurso para a ETEC, que é uma escola agrícola localizada na periferia da cidade, e a vaga era para o curso técnico em curtimento. JC – E como foi a experiência? JDFS – Passei no concurso, cheguei lá para trabalhar e levei um baque. Primeiro que o laboratório não tinha nada, a escola passava por grandes problemas então. Eu mal conseguia dar aula, uma indisciplina muito grande. Eu pensei: “o que eu estou fazendo aqui? Não foi isso que sonhei para a minha vida”. Entrei em pânico. Liguei para meu antigo orientador para chorar as mágoas. Achei que ele ia me motivar a sair dali, procurar outra escola. Mas ele disse: “Joana, larga mão de ser preguiçosa! Não é porque você estudou em Harvard que tem que trabalhar na melhor universidade, no melhor centro de pesquisa. Mude a realidade do lugar em que você está, faça essa escola ser conhecida no mundo inteiro. Pegue esses meninos, faça um projeto, envolva-os. Procure bolsa de iniciação científica para eles, mude a realidade dessa escola, mostre para seu país que o Brasil pode mudar através da educação".



Quebrando barreiras e limites para criar o futuro no interior do Brasil


E ela conseguiu uma virada sustentável - "Em menos de uma semana fiz um projeto e entreguei para a Fapesp para conseguir verba para o laboratório, pedi bolsa de iniciação científica de treinamento técnico. Era uma bolsa de quase R$ 800 e eu lembro que pedi sete bolsas. O projeto foi aprovado em cerca de 60 dias e eu dividi em duas partes, uma para o curso técnico de curtimento e outra para qualquer curso da escola. O aluno se torna empreendedor, tendo um mini curtume dentro de casa. Ele aprende todo o processo de beneficiamento das peles, dos couros, e por essa metodologia todos os produtos químicos poluentes são substituídos por restos de frutas e vegetais que têm a mesma funcionalidade. Não há produtos tóxicos, apenas as peles exóticas comestíveis, que são fáceis de serem adquiridas – galinha, tilápia, suínos e o bucho bovino. Tem criadores de tilápia que geram grande quantidade de peles e enterram porque não usam, então é fácil, você vai lá e pede. Uma parte muito poluente é a do corante, mas nós extraímos de frutas e vegetais (espinafre, beterraba, amora, jabuticaba, urucum, açafrão). O aluno trabalha essas peças exóticas e só precisa um balde e um cabo de vassoura. Eles envolvem a família na produção, costuram e unem as peças. Uma bolsa de bucho bovino tratado está sendo vendida no shopping Iguatemi por R$ 20 mil. Já temos contrato com uma grife italiana para fazer vestido de noiva com couro de pirarucu"...



Regina Casé diz que Drª Joana é ícone da ciência no país



Quebrando barreiras sociais -  "Consegui aprovar as sete bolsas de iniciação científica, para as quais eu só selecionei alunos em situação crítica de risco. Não foi fácil selecionar porque a gente tem que correr atrás desses alunos. Pedi aos professores que indicassem os alunos nessa condição e que me enviassem para que eu conversasse com eles. Na primeira vez que marquei, não apareceu ninguém, nem na segunda vez. Aí eu passei de sala em sala, chamando esses meninos e meninas. Por que não foi ninguém? Depois eles me explicaram: se você coloca um cartaz anunciando bolsa de estudos, iniciação científica, eles não se inscrevem porque sabem que serão excluídos. Eles acreditam que, por estarem naquela situação, os professores não vão querer saber. É uma autoestima muito baixa. Então eu fui até eles, chamava para conversar. Eu tinha que explicar passo a passo o que significava a bolsa de iniciação científica, até porque era uma novidade para eles. Acabei selecionando nessa primeira leva quatro meninos e três meninas".



Outra das homenagens à Drª Joana D'Arc Félix de Sousa



A saída é usar a cabeça - "É uma triste realidade: a família fica esperando esses meninos levarem o dinheiro pra casa. Daí quando veio a primeira bolsa, eu chamei todos para conversar e falei: avisem seus pais que a partir de amanhã vocês já vão ficar o dia todo na escola. Naquele dia eu pensei: como vou prender esses meninos na escola o maior tempo possível? Senão eles iam ficar um pouquinho ali na escola e logo iam sair de novo, para a rua. Então tive a ideia de xerocar um monte de artigos em inglês, comprei sete dicionários e no dia seguinte levei todos para a biblioteca, coloquei um em cada carteira, dei os artigos e um dicionário para cada um. Eles ficaram surpresos: “Isso tá em inglês, a gente não sabe isso não!” Eu disse: está aqui o dicionário, vocês vão anotar, traduzir e depois vamos discutir. Com isso eu conseguia segurar os alunos na escola até dez e meia, onze horas da noite. Eles iam embora para casa cansados, iam dormir, porque no dia seguinte tinham que estar sete e meia de novo na escola. Dos 40 alunos em situação crítica de risco que eu orientei e que já saíram da escola, não teve nenhuma desistência, oito fizeram curso técnico e foram para o mercado de trabalho, 32 estão fazendo Química. Uma coisa engraçada é sobre a roupa. Comprei jalecos brancos para eles e disse: vocês agora são todos pesquisadores, e pesquisador tem que usar jaleco branco o dia inteiro!".


As suas palestras são eventos de ciência e de emoção...

....mobilizando a nova geração universitária brasileira



A mulher avança na ciência - "No início dos meus projetos eu tive quatro meninos e três meninas, mas depois a coisa foi se invertendo e hoje são 80% meninas e 20% meninos. Me perguntam por que tantas meninas entram para o ensino médio e técnico, e na universidade essa tendência se inverte? A resposta é que muitas meninas acabam engravidando, se casando e perdem a motivação, são pouquíssimas as que têm coragem de ir para a universidade. Muitas delas nem pensam em universidade. O máximo que elas fazem é o técnico, e olhe lá, se conseguirem, porque elas estão mais preocupadas em levar dinheiro para casa. O jeito é motivar, aumentar a autoestima desses meninos e meninas. Eu comecei a levar meus alunos para participar de feiras nacionais e internacionais, faço questão de participar de pelo menos duas por ano. Dessa forma, através desses projetos, eles começam a ver que são importantes, que são tão bons quanto os primeiros alunos da sala. Eu sigo até hoje com essa realidade de só dar bolsa de iniciação científica para meninos e meninas em situação de risco, porque assim eles começam a se valorizar e podem ir para a universidade, dar uma virada".



A luta difícil e vitoriosa de Drª Joana vai virar filme através de um projeto de Lucy Barreto



Fazendo história e cinema -  "Vamos fazer um filme, já assinamos contrato com a cineasta Lucy Barreto. Ela pensa em motivar o jovem para a educação e a ciência. Uma coisa interessante é que o sonho do jovem menino é ser um Neymar, um jogador de futebol, e da menina é ser uma Bruna Marquezine, uma modelo. Mas nesse meio, são poucos os que vão conseguir chegar lá, muitos se decepcionam e acabam desmotivados para o estudo. A ciência está de braços abertos para todos, qualquer um pode se tornar um pesquisador. Por isso acho que a ciência é uma saída para mudar a vida de muita gente".  (Resumo da entrevista da Drª Joana D'Arc Félix de Sousa ao Jornal da Ciência).


(Confira outras informações e mensagens ou opiniões na seção de comentários do blog da gente, OK?) 




Ela vem ajudando a avançar a ciência e o país



Fontes: jcnoticias.jornaldaciencia.org.br
              google - folhaverdenews.blogspot.com

11 comentários:

  1. "Ainda nos anos 90, eu fazia uma série de matérias para divulgar o conceito da ecologia através do jornal Diário da Franca nesta cidade do interior de São Paulo com as águas então muito poluídas e tive a felicidade de publicar em primeira mão o prêmio que Drª Joana D'Arc ganhou em 1º lugar na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, dentro da ciência ambiental, uma alternativa sustentável de tratamento químico de efluentes industriais de curtumes, vital para a despoluição, a reciclagem e a criação do futuro": comentário de Antônio de Pádua Silva Padinha, editor deste blog, que depois de atuar em TVs, rádios e jornais em São Paulo estava de volta à sua cidade natal "para tentar mudar e avançar a sua realidade e aí, encontrei também o trabalho fora do comum desta cientista de verdade".

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  4. "Uma das matérias mais emocionantes que fiz foi em Franca, lá no laboratório da Etec e no dia a dia da cientista Drª Joana D'Arc Félix de Sousa": comentário de Mirian Leitão, economista e apresentadora da Globo News.

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  5. "Show": comentário de Cássio Freires, jornalista, repórter da Hertz AM/FM, em mensagem enviada através do Facebook.

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  6. "Creio que o maior prêmio entre todos os que tenho recebido é conseguir transformar a vida dos meus alunos e alunas através da educação e da prática da ciência": comentário de Drª Joana D'Arc Félix de Sousa, confira no vídeo postado hoje aqui no blog. Até a virada de 2018 para 2019, esta cientista de valor fora do comum ganhou 82 prêmios, no Brasil e no exterior.

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  7. "Vejo a Drª Joana como uma exceção heróica no Brasil, onde a ciência, a pesquisa, a educação e a cultura têm sofrido cada vez mais erros dos governos e limites para a sua expansão que é mais do que necessária, essencial": comentário de Luiz Helena Martins, estudante que se prepara para vestibular, que acompanhou uma palestra neste tema na Unicamp.

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  8. "O sucateamento da ciência brasileira por conta dos cortes orçamentários dos governos vem tirando o sono dos pesquisadores, o contingenciamento do orçamento para o setor hoje está está em torno de 39%. Podia ser pior: o previsto inicialmente era chegar a 44% de corte. Já faltavam recursos em 2017, faltarão cada vez mais recursos para todo este setor": comentário de Brito Cruz, da Fapes, em matéria na Revista Época. A matéria nos foi enviada pro e-mail da redação pelo estudante Luiz Helena Martins, de Campinas, São Paulo. A gente agradece a colaboração.

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  9. "Instituição destinada ao fomento da pesquisa científica e tecnológica e à formação e qualificação de pesquisadores, o CNPq é uma das maiores fontes de bolsas de pesquisa no país. Em um momento de redução de verbas e crise econômica, a instituição afirma que tem focado sua atuação em duas frentes. A primeira é buscar estabelecer parcerias com agências internacionais para "somar recursos" e gerar uma pesquisa de "maior impacto". A segunda é não depender só do governo e aumentar o interesse e, por consequência, o investimento da iniciativa privada. Algo que, teria mais possibilidades com o novo marco do setor, aprovado em 2016. Algumas empresas interessadas em parcerias já participaram, inclusive, do Ciência sem Fronteiras, mas têm críticas a este tipo de participação e a crise no setor": comentário extraído também da matéria da Revista Época, que tem como um de suas manchetes: "pesquisadores no Brasil são heróis".

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  10. "Albert Einstein, ao chegar exilado aos Estados Unidos, devido ao governo nazista da Alemanha na sua época, foi à Universidade de Princeton. O reitor perguntou a ele a lista dos equipamentos e aparelhos que ele iria precisar para as suas pesquisas: "Só lápis e papel", disse Einstein com sabedoria. Me lembrei disso ao ver nessa matéria Joana D'Arc indicando a seus alunos e alunas usar frutas como material. De repente, o principal vem de dentro de cada pessoa e da sua inteligência para superar as barreira": comentário de Leonor Barros Costa, de Cuiabá, Mato Grosso, geógrafa.

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  11. Exemplo de como a educacao faz a diferenca.A educacao e transformadora.

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