PODCAST

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

É UMA PRECAUÇÃO POSITIVA OU O ESTADO ESTÁ ERRANDO OU EXAGERANDO E COMETENDO ABUSO DE AUTORIDADE NO CASO DE CAIÇARAS NA PRESERVAÇÃO DE JUREIA?

A última família de caiçaras no rincão mais preservado da Mata Atlântica deve ficar ou sair? Caso expõe erro do governo paulista ou ao menos já levanta uma polêmica sobre os limites na relação entre o Estado e o cidadão: sites como El Pais e Ambiente Brasil também debatem e  questionam esta situação hoje a pauta aqui em nosso blog da ecologia e da cidadania



Caiçaras podem se integrar à preservação da última natureza litorânea do sul e sudeste do país?

Nancy Prado, antiga caiçara que sobrevive na Juréia


Quase nunca as autoridades governamentais na área do meio ambiente falam a mesa língua ou seguem os mesmos rumos que o movimento ecológico, isso parece estar acontecendo de novo agora. Não há dúvida que é essencial para a última ecologia da Mata Atlântica preservar as matas, as águas, a fauna e a flora das matas da Jureia (estação ecológica no litoral sul paulista a apenas 150 quilômetros da capital poluída São Paulo. Este bioma ainda tem trechos sobreviventes que acompanham a costa brasileira, alcançando a Argentina e o Paraguai. Jureia neste contexto é considerada por pesquisadores a área de Mata Atlântica mais preservada do Brasil, banhada pelo Rio Una. Hoje ela é uma Reserva da Biosfera, patrimônio da humanidade pela Unesco. O rigor de autoridades da polícia ambiental ou do Governo de SP ajudou esta área de extremo valor escapar da cobiça de empreendimentos imobiliários ao longo dos últimos 30 anos. Até aí, ótimo, porém, não parece justificável a secretaria estadual de Meio Ambiente simplesmente desalojar da área (nas proximidades do Rio Verde, afluente do Una) uma família de caiçaras vivendo por ali há 8 gerações com liberdade e sem danificar o equilíbrio ecológico do lugar desde muito tempo, talvez 200 anos. Esta importante reserva resistiu à pressão do setor imobiliário nos anos 70 e até ao lobby de uma usina nuclear que tentou se instalar ali nos anos 80, num pedaço nativo da Mata Atlântica onde sobrevivem ali protegidas espécies ameaçadas de extinção como Cotias ou Pacas ou mesmo Onças e a já rara ave Macuco. A região ainda faz parte do Lagamar, considerado o mais importante berçário de vida marinha do Atlântico Sul, com Golfinhos e tudo mais. OK, no processo, laudos antropológicos apontam que a família caiçara Prado vive nesta região pelo menos desde o século XVIII, não destruiu e até ajudou a sua preservação. Agora estão sendo desalojados dali pelo Estado e por meio da Fundação Florestal.  Vale lembrar aqui que em geral Caiçaras são assim chamados os habitantes tradicionais do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, formados a partir da miscigenação entre índios, brancos e negros e que têm, em sua cultura, a pesca artesanal, a agricultura, a caça, o extrativismo vegetal, o artesanato e, mais recentemente, o ecoturismo. Nestes tempos de devastação da natureza, porém, todo cuidado é pouco e isso também dimensiona esta polêmica hoje aqui neste blog. 



Juréia, Reserva da Biosfera


A casa dos Prado no interior da reserva



Fotos e reportagem de Maurício Pisani levantaram o caso destes caiçaras na Jureia


Agora recentemente, no entorno da casa desta tradicional família de caiçaras, cerca de uma dezena de pessoas estão acampadas para apoiar a permanência dos três casais que são os últimos sobreviventes dos Prados por ali. Estes caiçaras da Jureia seguem um modo de vida ecológico e pedem que os manifestantes façam isso também: com a separação do lixo para que os recicláveis sejam levados para descarte na cidade no único carro que a comunidade dispõe há dez anos. O que a comunidade vê como um ato de solidariedade e resistência causa preocupação ao Estado, que teme os impactos ambientais da presença dos manifestantes, o que na prática significa mais pessoas na unidade de conservação. O arqueólogo Plácido Cali, que estudou a região durante anos, pondera: “Área de conservação não necessariamente é aquela que não tem ninguém dentro. Eu acho perfeitamente possível a manutenção da biodiversidade mantendo uma comunidade tradicional integrada, como no caso esta família de caiçaras, que estão presentes ali desde o início da colonização e não destruíram a ecologia da reserva”. A polêmica já está na Justiça e está para ser objeto de uma nova rodada de negociação, já agendada de novo para os próximos dias. A preocupação do Estado é que, nos próximos 50 ou 100 anos, a comunidade caiçara cresça demais e ponha em risco a preservação da Jureia. O enfoque do movimento ecológico é que as autoridades governamentais neste caso dos caiçaras possam estar tendo um abuso de poder ou um excesso de zelo, talvez o melhor fosse integrar os últimos descendentes dos Prado, que vivem por ali há mais de 200 anos de forma sustentável, sem estragar nada e integrados àquela realidade socioambiental, tendo seus direitos de cidadania, sejam utilizados na defesa, vigilância, manutenção da Reserva, quem sabe, dentro dum programa de educação ecológica para a região e para a onda crescente de ecoturistas.  Para alguns ecologistas, com visão mais ampla, estes caiçaras já são uma espécie de fauna humana da Jureia. 



Manifestantes apoiando permanência dos Prado, caiçaras há 200 anos na área da Jureia

A questão de todo caiçara precisa ser debatida

Eles poderiam ajudar na preservação da natureza ali do litoral sul paulista?

Aqui uma antiga casa de caiçaras removidos da Jureia


(Mais informações sobre esta polêmica, sobre a Jureia e sobre casos que se assemelham a este - como no Vale do Bom Jesus em Pedregulho (SP) ou na Paque Nacional da Serra da Canastra - na seção de comentários e confira também no blog da gente o vídeo que mostra o lado dos Caiçaras, povo litorâneo, tradicional e mestiço)




Em geral Caiçaras são habitantes tradicionais do litoral sul e sudeste do Brasil mestiços de índios, brancos e negros






Fontes: El País - Ambiente Brasil                                                            folhaverdenews.blogspot.com



7 comentários:

  1. Já temos alguns comentários e mensagens, logo mais, estaremos editando esta seção de nosso blog, aguarde e venha conferir depois.

    ResponderExcluir
  2. Você pode participar, postando direto aqui sua opinião ou se preferir enviando seu conteúdo (notícia, fotos, textos etc) pro e-mail do editor deste blog de ecologia e de cidadania, que depois a gente postará aqui nesta seção para você, mande então para o e-mail padinhafranca603@gamil.com

    ResponderExcluir
  3. Corrigindo e-mail de nossa editoria para você enviar alguma mensagem: padinhafranca603@gmail.com

    ResponderExcluir
  4. "Este filme ou vídeo das Raízes dos Caiçaras expressa bem a situação dos nativos de Jureia": comentário de maria Luiza, estudante da Unesp de Bauru (SP).

    ResponderExcluir
  5. "A família de antigos Caiçaras Prado vive na região do Rio Verde – hoje declarada Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco –, no coração da Jureia, entre a foz do rio Una e o Maciço da Jureia. A área é considerada a joia da coroa por ambientalistas e pelo Estado. Símbolo de uma das maiores conquistas do movimento para proteger a biodiversidade brasileira, a área é considerada o mais bem preservado trecho de mata atlântica do mundo, com a natureza supostamente intacta da praia até a montanha": comentário extraído da posição da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, no site Ambiente Brasil.

    ResponderExcluir
  6. "Por aqui na região de Franca, em Pedregulho, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, teve uma situação similar, José Moreno e ecologistas lutaram para preservar o Vale do Bom Jesus, que foi transaformado em parque estadual no Governo Quércia, mas depois a Fundação Florestal não aceitou a presença da comunidade nem mesmo dar o nome do parque de José Moreno, isso pegou muito mal essa diferença entre idealistas da ecologia e burocratas da área ambiental do governo": comentário de Yara Mendes, estudante da Universidade Federal de Uberlândia.

    ResponderExcluir
  7. "Nos anos 70, um pouco antes das Furnas do do Vale do Bom Jesus, na fundação do Parque Nacional da Serra da Canastra, formalizado pelo Governo Federal (Fernando Henrique Cardoso), na desapropriação, antigos mpradores tiveram que deixar a região, houve também um processo judicial, os moradores da Canastra foram defendidos por Dr. Nilton Silvestre, que havia sido Juiz de Direito. Uma situação em busca de justiça ambiental também, se certa forma parecida com a da dos caiçaras da Jureia": comentário também de Yara Mendes, que estuda em Uberlândia na Universidade Federal.

    ResponderExcluir

Translation

translation