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A Amazônia não é mais das florestas e dos animais selvagens |
O jornalista Eduardo Pegurier postou matéria no site O Eco aqui no Brasil e no El Pais no exterior sobre dados que os satélites mostram sobre o processo de desmatamento lá na floresta Amazônica. Ao vasculhar e documentar através dos anos a degradação e os vazios criados pelo corte raso da mata, a pesquisa do Imazon chega a um veredito: dois terços da área desmatada virou pasto. No chão, a contagem do gado mostra que a Amazônia é território mais de boi do que de gente. Há meses atrás, a quantidade de gado ali na região já chegava a 85 milhões de cabeças, em comparação a uma população humana de 25 milhões de habitantes, mais de três bois por pessoa. No município de São Félix do Xingu, que contém o maior rebanho do país, essa proporção chega a 18 para 1, uma goleada da boiada. Além do gado, existe a expansão da soja por lá, o que complica mais a situação.
Os
números são amazônicos: a Amazônia Legal abrange 61%
do território do Brasil e contém 40% do rebanho nacional. O gado é
mantido em cerca de 400.000 fazendas espalhadas pela região, com
tamanhos que variam de alguns poucos até dezenas de milhares de
hectares. Então, quando a ONG Imazon terminou um novo e detalhado levantamento sobre os frigoríficos da região,
a grande surpresa foi encontrar um número pequeno: apenas 128
instalações destas empresas, pertencentes a 99 empresários que são
responsáveis por 93% do abate anual, algo como 12 milhões de cabeças de
gado.Já era sabido que os frigoríficos
são o gargalo da cadeia de criação do gado. Mas o levantamento do
Imazon é inédito porque revelou a geografia da pecuária na Amazônia,
vista pela zona de influência destes 100 abatedouros. Para
se ter uma ideia, ocupar a capacidade de abate anual de um único
frigorífico de grande porte demanda uma área de pasto de quase 600.000
hectares, três vezes maior do que o município de São Paulo. O conjunto
de frigoríficos analisados no estudo, operando a plena capacidade,
demandaria uma área de pasto de 68 milhões de hectares (maior do que o
estado de Minas Gerais). Essa quantidade supera a soma dos pastos hoje
existentes na região, indicando que o futuro da atividade gerará mais
desmatamento. Maior ainda porque além da pecuária há na Amazônia a expansão da monocultura da soja.
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Pior que a floresta além da pecuária enfrenta também a expansão da soja |
Se
entre 2016 e 2018 a taxa de desmatamento recente se repetir, 90% das
novas perdas de floresta estarão dentro da área de influência de compra
de 128 frigoríficos: esta análise na reportagem de Eduardo Pegurier em cima de vários anos de pesquisa do Imazon está mostrando com clareza a influência de tão poucos frigoríficos sobre
quase todo o rebanho amazônico, isso envolveu todo um trabalho de detetive e
tecnologia de geoprocessamento. A primeira etapa foi obter os endereços
de todos os frigoríficos de maior porte e confirmá-los usando imagens de
satélite de alta definição, para verificar se naqueles locais havia
instalações típicas da atividade, como currais e tanques de tratamento
de água. A
partir daí, os pesquisadores queriam responder a pergunta: qual era a
zona potencial de compra de cada frigorífico? E dois, como essa zona
potencial se relaciona com as áreas já desmatadas e as que estão sob
maior risco de desmatamento no futuro próximo? O
primeiro passo era descobrir a distância máxima que cada frigorífico
alcançava nas compras de gado. Isso foi feito através de entrevistas
telefônicas com os gerentes de frigoríficos e cruzamentos de dados.
Havia casos curiosos, como um frigorífico no Acre,
que não adquiria boi mais longe do que a 20 km das suas portas, e, no
extremo oposto, no Amazonas, havia outro que comprava a mais de 1.000 km
de distância, indo até Roraima, para compensar a falta de gado na sua região na época da seca. Baseado
nas distâncias máximas, o segundo passo era estabelecer a área
potencial de compra dos frigoríficos. Hora de voltar à tecnologia
geoespacial. "O Imazon tem um mapeamento completo de estradas oficiais e
informais na Amazônia, uma base que vem sendo atualizada desde 2008",
conta Amintas Brandão Jr., um dos autores do estudo: "Rodamos uma
análise espacial em que você insere no software as coordenadas do
frigorífico e a distância máxima que ele compra, digamos, 100 km. Daí, o
software sozinho percorre todas as estradas e rios navegáveis
acessíveis àquele frigorífico até atingir os tais 100 km. Assim,
conseguimos delinear uma zona potencial de compra. O trabalho foi este, estabelecer a área de influência de
cada frigorífico usando a rede de infraestrutura, a malha de estradas e
rios navegáveis por onde o gado pode ser transportado.
O
estudo da equipe de pesquisadores do Imazon gerou uma previsão de onde estarão as próximas áreas desmatadas
na Amazônia. De novo, eles recorreram aos softwares de
análise geoespacial. Eles dividiram a Amazônia Legal em quadrados com 1
km de lado. Para cada um deles, foi estimada a probabilidade de
desmatamento baseada na presença de fatores que o estimulam, como
disponibilidade de transporte por estrada ou rio, distância até mercados
e potencial da terra. Criaram, assim, um mapa de probabilidade de
desmatamento para toda a Amazônia Legal. Usaram a área desmatada nos
três anos anteriores, 1,7 milhão de hectares (17 mil km2),
como estimativa do total de desmatamento que poderá ocorrer no triênio
2016 a 2018. Em seguida, a partir do mapa de probabilidades,
determinaram quais são as áreas com maior chance de ocorrência de novos
desmatamentos. A última etapa foi sobrepor as zonas de influência de
compras dos frigoríficos. A coincidência entre as duas áreas foi de 90%. Em
outras palavras, se entre 2016 e 2018 a taxa de desmatamento recente se
repetir, 90% das novas perdas de floresta estarão dentro da área de
influência de compra de 128 frigoríficos.
O estudo do Imazon criou um panorama detalhado da influência que os frigoríficos podem ter sobre o desmatamento. Com isso, já se tem um mapa, as tecnologias estão disponíveis para rastrear o gado da sua origem até o local de abate. Falta agora uma pressão consistente e punições para criadores e frigoríficos que compactuam com crimes ambientais, conclui a pesquisa. No caso da febre aftosa, o problema só se resolveu quando o setor percebeu seriam perdidos os mercados mundiais se não fosse feito um programa efetivo de vacinação. A pressão do mercado funcionou para os fazendeiros se organizarem e firmarem parcerias com o Governo. Agora, na questão do desmatamento, diante de todos estes dados, um bom começo seria uma nova rodada de aperto sobre o setor ruralista liderada pelo MPF e pelo Ibama. Já se sabe onde está o centro da questão. O inimigo amazônico número um já tem uma cara, um endereço e uma razão, falta então somente coragem e determinação das autoridades para resolver a parada do desmatamento que já compromete demais o equilíbrio ambiental da Amazônia. Há até uma equação que vai se formando nessa realidade gado + soja = mais desmatamento."Só uma gestão governamental de desenvolvimento sustentável, na região amazônica também, que possa equilibrar a economia com a ecologia, poderá evitar um caos do meio ambiente brasileiro.
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A expansão ruralista na Amazônia tem duas frentes, a soja... |
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...e o aumento crescente da indústria de carne bovina |
O estudo do Imazon criou um panorama detalhado da influência que os frigoríficos podem ter sobre o desmatamento. Com isso, já se tem um mapa, as tecnologias estão disponíveis para rastrear o gado da sua origem até o local de abate. Falta agora uma pressão consistente e punições para criadores e frigoríficos que compactuam com crimes ambientais, conclui a pesquisa. No caso da febre aftosa, o problema só se resolveu quando o setor percebeu seriam perdidos os mercados mundiais se não fosse feito um programa efetivo de vacinação. A pressão do mercado funcionou para os fazendeiros se organizarem e firmarem parcerias com o Governo. Agora, na questão do desmatamento, diante de todos estes dados, um bom começo seria uma nova rodada de aperto sobre o setor ruralista liderada pelo MPF e pelo Ibama. Já se sabe onde está o centro da questão. O inimigo amazônico número um já tem uma cara, um endereço e uma razão, falta então somente coragem e determinação das autoridades para resolver a parada do desmatamento que já compromete demais o equilíbrio ambiental da Amazônia. Há até uma equação que vai se formando nessa realidade gado + soja = mais desmatamento."Só uma gestão governamental de desenvolvimento sustentável, na região amazônica também, que possa equilibrar a economia com a ecologia, poderá evitar um caos do meio ambiente brasileiro.
(Não
se trata de proibir plantio de soja ou pastagens de gado mas que estas
economias sejam feitas de maneira sustentável sem mais desmatamentos
para sobreviver a ecologia da Amazônia, vital para o ambiente e o clima
de todo o Brasil: na seção de comentários mais informações e mensagens)
Fontes: O Eco - El Pais
www.folhaverdenews.com
Nessa matéria ficou explícito o risco de maior desmatamento devido à expansão da pecuária. Mas lá tem também a produção de soja no Brasil que alcançou destaque na última década. Atualmente, o país se configura como o maior exportador e segundo maior produtor de soja no mundo. A expansão desse cultivo está sendo associada por pesquisadores diretamente ao desmatamento da Floresta Amazônica. Sua cultura se iniciou no sul do país e avançou para a região central, sobre o bioma do Cerrado, expandindo-se, gradativamente, ao norte do Brasil, principalmente por meio de latifúndios monocultores e controlados por grandes empresas transnacionais. A área de avanço agrícola ao norte tem substituído o Cerrado.
ResponderExcluirA Floresta Amazônica tem preocupado entidades públicas e privadas em face do desmatamento exagerado e perda da biodiversidade. Vários estudos já analisaram o avanço da cultura da soja no norte do estado de Mato Grosso, no período entre 1984 e 2009, por meio da interpretação de imagens de satélite, e sua relação com o desmatamento da Floresta Amazônica. Como resultado, apresentam-se três mapas de uso do solo da área de estudo. A análise dos mapas permitiu verificar que o desmatamento recente da floresta está sendo promovido pela atividade pecuária, e os solos descampados e erodidos do pasto têm sido usados para a cultura de soja. Ou seja, na área analisada, a soja estabelece-se em áreas antes degradadas pelo gado, e não diretamente sobre as áreas de floresta desmatada. De toda forma, o prejuízo é da floresta e da ecologia.
ResponderExcluirNão se trata de proibir a pecuária nem a soja, o que por bom censo o movimento ecológico, científico e de cidadania defende é um programa de desenvolvimento sustentável, também no caso na Amazônia, capaz de equilibrar os interesses destas economias que estão em expansão lá com os da preservação dos recursos naturais da Amazônia, vitais para todo o país, também para o clima e o meio ambiente nacional.
ResponderExcluirVocê pode por aqui sua opinião ou nos enviar informações, faça isso, mande um e-mail para a redação do nosso blog navepad@netsite.com.br
ResponderExcluirVocê pode também contatar por e-mail o editor deste blog, também para nos enviar material ou a sua mensagem: padinhafranca603@gmail.com
ResponderExcluir"Através de matérias como esta a gente vê que o problema no Brasil não é somente corrupção ou a questão política mas também o modelo de economia, o tal de desenvolvimentismo, a bem dos ruralistas em especial, a dano do meio ambiente e de uma forma mais sustentável de desenvolvimento": comentário de Geraldo Santos Vergueiro, engenheiro florestal pela USP.
ResponderExcluir"Importante um equilíbrio entre as economias do boi e da soja com a ecologia, o Brasil depende em termos ambientais da Amazônia, suas águas definem o ciclo das chuvas, reduzem o avanço das secas e regulam o clima que está caótico no país": comentário de José Fernando Lemos, economista, especializado em Sustentabilidade na UFRJ.
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