PODCAST

quinta-feira, 23 de maio de 2024

GUERRA DO CLIMA

TEM COMO EVITAR OUTRAS TRAGÉDIAS COMO A DO RIO GRANDE DO SUL AGORA

Os eventos climáticos extremos serão mais frequentes alerta matéria do site Outras Palavras: o Brasil precisa se preparar, sem se limitar ao socorro ou à reconstrução pós-tragédia


O momento é de emergência humanitária, ambiental e climática para se evitar outras tragédias como a de agora


.

Há gestão emergencial e tecnologia capazes de evitar outras tragédias como agora nos Pampas. Por exemplo, técnicos indicam um processo emergencial que inclui limpeza nas cidades e meio rural, desassoreamento de rios e lagoas, desobstrução de canais de esgoto, proteção de encostas, recomposição de matas ciliares, construção de casas fora de áreas de risco, enfim, os investimentos nesse novos tempos vão da manutenção e reforço de estruturas à criação de novas infraestruturas para atenuar as ameaças do clima e do ambiente. Segundo a ministra do Meio Ambiente Marina Silva o governo já mapeou 1.942 municípios (35% do total do país) que estão vulneráveis a desastres ambientais, como enchentes, secas severas e queimadas, para se tentar uma repetição da tragédia gaúcha e iniciar ainda que tarde uma gestão ambiental, uma emergência climática. A ideia é criar um novo regime jurídico que permita decretar municípios em emergência climática, para viabilizar mais acesso a financiamento para ações de prevenção, da mesma forma que hoje o Congresso pode decretar situação de calamidade, após desastres. A proposta dependerá de mudanças legislativas no Parlamento.A maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul é uma emergência humanitária do porte da Covid-19. Guerras, conflitos sociais, golpes de estado, doenças infectocontagiosas, desastres climáticos/naturais, compõem o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define como sendo o quadro das emergências humanitárias. Elas desestruturam as relações sociais e a rotina de vida da população, descortinam o limite de nossa capacidade de sobrevivência e colocam para cada um de nós uma condição muito difícil: estar em desamparo ou em desalento. E mais, uma tragédia destas atinge direta e indiretamente à todos nós mesmo à distância. Somado a isso, essa catástrofe ainda não exibiu todos os seus impactos. Mais de 86% do Rio Grande do Sul foi afetado, com 435 municípios destruídos e 1.9 milhão de pessoas atingidas. Doenças, infestação de insetos, saques, roubos, destruição material de lares e da infraestrutura urbana; falta de medicamentos, combustíveis, roupa, comida e água; aulas suspensas, escolas destruídas, precarização do atendimento de saúde e diversos negócios desfeitos. A situação é tão grave e devastadora como as guerras, tão letal como uma pandemia, agora é a guerra do clima. 


 Por outro ângulo, a solidariedade do povo dá esperança de um avanço na cidadania do Brasil


A solidariedade de todo um país e o socorro dos governos atenuam a tragédia. O corte de gastos gerais para aumentar os gastos com o RGS redistribui o sacrifício do drama humanitário de forma difusa. Apenas prejudicará os demais serviços públicos, demais investimentos públicos e/ou os beneficiários de transferências, fazendo recair as consequências sobre quem mais depende deles, a saber, os mais pobres. Seria muito bizarro, e politicamente complicado, empurrar nos corações dos mais pobres o custo econômico de uma crise ambiental e humanitária que não produziram. Claro que essa consideração não faz desaparecer a bizarrice e a complicação política envolvendo perdas para pobres. Mas sempre aparecerá um jornalista em algum jornal da noite, fazendo cara feia, perguntando se o socorro e a reconstrução ao povo gaúcho  será a porta aberta da gastança!


Um marco que pode levar a uma virada sustentável


A menos que se prove que, no curtíssimo prazo, o país não poderá produzir, contar com seus estoques ou importar comida, remédios, combustíveis, materiais de reparo diversos para salvar quem precisa, não haverá razão para reduzir a demanda geral. Não há então, por que cobrar impostos ou cortar gastos. Mesmo diante de um horizonte temporal mais amplo, o da reconstrução e prevenção, a menos que não haja ociosidade na produção de tijolos, madeira, vidro, cimento, aço e demais insumos, bastará fazer a encomenda desses materiais. Aliás, deve-se observar que a arte é mobilizar o sistema produtivo, normalmente muito sensível a aumentos de demanda. E não só os materiais necessários podem ser ofertados a partir da ociosidade produtiva existente, como a demanda por eles poderá, se devidamente planejada, estimular a produção futura. E, considerando que eventos extremos deverão continuar, o país deveria imediatamente estimar um horizonte de longo prazo de demanda de recursos para a reconstrução e prevenção de acidentes naturais, extrapolando a ambição da reconstrução das estruturas do Rio Grande do Sul. Também não falta mão de obra para os trabalhos necessários para a salvação nem a recuperação. Haverá muita demanda de trabalho sofisticado, por certo, como o de médicos e engenheiros, e não há sinais de que estejam em falta, mas será necessário muito mais trabalho braçal. Limpeza, desassoreamento de rios e lagoas, desobstrução de canais de esgoto, proteção de encostas e recomposição de matas ciliares e obras de construção diversas, indo da manutenção e reforço de estruturas à criação de novas infraestruturas e criatividade na gestão preventiva dos problemas do clima e do ambiente. 


 Há como evitar outras tragédias porém o que se exige agora são investimentos estruturais, preventivos e emergenciais


O governo federal argumenta muito bem: não se está lidando com um caso normal e medidas a altura devem ser tomadas. Ele já percebeu que as vozes preocupadas com o resultado primário já se alevantam, tentando se colocar acima de quaisquer preocupações. Acontece que tem gente morrendo e os problemas da enchente sequer começaram. Quando as águas caírem de fato, o acúmulo de desgraças superará em muito as cenas terríveis que inundam o noticiário diário e as redes sociais. E aqui, colocamos o problema sobre a liberação de recursos somente após uma catástrofe irromper, desapossar e matar pessoas: por que recursos não poderiam ser liberados antes de uma emergência humanitária desse porte, por meio de uma prática de gestão ambiental e de  uma política de prevenção a catástrofes? O que aconteceu com o país, que passou por uma pandemia e parece não ter entendido que emergências humanitárias serão uma ameaça cada vez mais frequente em nosso mundo? Infelizmente, a normalidade é a enchente, a seca, o aumento dos níveis dos mares, o aumento da temperatura, em cidades mal preparadas por anos e anos de baixos investimentos e de serviços públicos insuficientes. Morrerá um monte de gente, muita coisa será destruída, operações de socorro mais ou menos improvisadas terão início, rituais de velório dominarão o país e especialistas do mercado financeiro lembrarão da importância das contas públicas diante de necessidades orçamentárias extraordinárias e não-dimensionadas. A agressividade dos eventos extremos coloca diversas cidades e o meio rural em situação de muito maior risco do que os modelos existentes podem calcular. Todo o país, e não só o RS, vive uma emergência climática com catástrofes em potencial. Os especialistas, certamente, devem estar com suas antenas ligadas para a região serrana do Rio de Janeiro. Há um atraso enorme nas obras de macrodrenagem que tem que se resolver o mais breve possível no menor tempo. Ou alguém duvida que o que se viu em Petrópolis não se repetirá no fim deste ano? Seria possível aos mesmos especialistas listarem um número de áreas de risco que mereceriam maiores, muito maiores investimentos em prevenção de acidentes, como é o caso do fatal encontro entre as águas do Paraíba do Sul com as toneladas de escória da CSN, em Volta Redonda. O abastecimento da água da cidade do Rio de Janeiro está em xeque. Para continuar no Rio, diante dos fatos recentes, caberia perguntar se as usinas nucleares de Angra dos Reis estão protegidas de uma subida de nível das águas do mar. A capacidade de adaptação por meio de ações para aumentar a resiliência é o desafio da hora, sem falar nas ações para promover uma economia mais sustentável. Uma gestão ambiental e climática se trata de vidas, da proteção da saúde e da saúde mental das populações, da preservação da economia e, por que não, também das contas públicas.


Nesse tempo de guerra do clima enchentes, secas, onda de doenças, desafios na condição de vida da população


Diante dos desafios colocados pela repetição de eventos extremos, a solução do problema fiscal não é limitar o socorro e a reconstrução. Limitar o socorro quando é necessário, é aceitar a morte e a destruição, especialmente para os mais vulneráveis. Nesses casos, é preciso ampliar os gastos e sempre será. Mas, então, não seria o caso de antecipar gastos para evitar outros no futuro? Se é verdade, e quem hoje pode negar, que eventos extremos continuarão a ocorrer, matando muita gente e destruindo a economia, por que viver de emergência em emergência? Pense, quando menos, no que isso provoca de estresse sobre as contas públicas. Não seria melhor antecipar os desastres com o melhor conhecimento disponível e criar condições para evitá-lo, mitigar as consequências e desenvolver sistemas de socorro mais adequados? Será inevitável escalar os investimentos em prevenção de desastres, tais como os de macrodrenagem, de relocalização da produção e das moradias, do fortalecimento de pontes e estradas já existentes como, ainda, valorizar infraestruturas redundantes para diminuir a exposição aos riscos, sem descuidar de esquemas de salvação bem ensaiados caso algumas das novas estruturas falharem. A palavra “escalar” é para lembrar de que serão necessários aumentos relevantes e rápidos nesses investimentos. Não adianta ficar procurando uma solução de mercado, como a privatização da gestão de diques e comportas. É preciso investir no limite do que a economia brasileira pode dar e não no limite fictício dado pelas contas públicas. É preciso montar um grande PAC de investimentos em reforço e modernização da infraestrutura de proteção das cidades e das demais regiões onde haja gente vivendo (também em áreas de risco) e atividade econômica. Só o aumento do gasto público em estruturas que tornem o país mais resiliente aos eventos extremos, mobilizando os recursos materiais, preservará vidas, além das próprias contas públicas. Fora disso, é ceder ainda mais para austeridade, que já nos mergulhou na fome, na insegurança, no desalento, na morte e na falta de um futuro que seja sustentável para toda a população. Aqui no blog da ecologia Folha Verde News resumimos algumas dos mais importantes argumentos de Antônio José Alves Júnior e Cláudia Henschel de Lima do site Outras Palavras, alertando também sobre a necessidade de uma virada na gestão do clima e do meio ambiente para se evitar novas tragédias. Sim, isso é possível, há tecnologia e alternativas para se evitar o caos que foi sinalizado agora nesta guerra climática no sul do Brasil. 


Marina Silva, ministra e ecologista, tem consciência de que há como evitar uma sequência de tragédias no país e busca este rumo


No site BBC Brasil foi postada a lista atualizada identificou 1.942 cidades suscetíveis a eventos climáticos extremos. Tem como atender todas ao mesmo tempo ou vai haver uma priorização? A essa questão urgentíssima, Mariana Silva respondeu: "Vai ser feito um olhar acurado para essa lista, e o processo de definição das cidades em emergência climática. Se nós temos o regime jurídico da emergência climática, os estados e os municípios também vão se declarar em condição emergencial. Haverá um reconhecimento se de fato esses municípios estão nessa condição. Qual é o critério para esse reconhecimento? A base de dados do Cemaden e outros órgãos de monitoramento em relação aos processos meteorológicos do Brasil. Nós também temos que ter um olhar para os processos de risco de fogo, por exemplo. Esse ano, nós estamos correndo risco de grandes incêndios, porque nós tivemos o El Niño no ano passado e nós estamos sob o fenômeno La Niña. Com isso, não tivemos uma cota de chuvas que tenha conseguido fazer com que o Pantanal fosse até a sua cota de cheia. Na Amazônia, a maioria dos rios não alcançou sua cota de cheia. Então, nós estamos vendo agora no Rio Grande do Sul o risco climático na forma de grandes enchentes. Nós podemos ter também a guerra do clima na forma de grandes incêndios e secas". 

 

Depois da catástrofe gaúcha o país jamais será o mesmo e tem realmente que mudar e avançar nas áres climática e ambiental


Fontes: Outras Palavras - BBC - folhaverdenews.blogspot.com

4 comentários:

  1. "Para ficar apenas no problema das enchentes urbanas, Londres há 40 anos criou um sistema de gestão dos rios, das chuvas, do saneamento, que por lá não tem havido dramas como o que aconteceu agora em Porto Alegre e em 80% do Rio Grande do Sul": comentário de Antônio de Pádua Silva Padinha, ecologista e editor deste blog. participe você também deste debate;

    ResponderExcluir
  2. Você pode postar direto aqui neste seção do blog a sua notícia, comentário, crítica, informação, pesquisa ou se preferir, enviar para o e-mail do Folha Verde News a sua mensagem que depois postaremos aqui também, mande desde já para padinhafranca603@gmail.com

    ResponderExcluir
  3. "Estou vendo aqui que as passarelas flutuantes que foram instaladas provisoriamente pelo Exército acabaram sendo levadas pela enxurrada, a engenharia terá um desafio muito grande na reconstrução": mensagem que recebemos de Porto Alegre do radialista Fernando Soares por e-mail ontem à noite.

    ResponderExcluir
  4. SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL - Recebemos este link da repórter Julia Braun (BBC) no G1: em resumo, para evitar enchentes e alagamentos urbanos a principal alternativa é criar nas cidades estruturas naturais alagáveis tipo várzeas ou parques para que a água possa ser contida ali por um tempo, depois, absorvida pelo lençol freático. Isso foi feito com sucesso ba China, Tailândia e Indonésia, comenta o cientista Konglian Yu, da Universidade de Pequim.

    ResponderExcluir

Translation

translation