PODCAST

domingo, 28 de agosto de 2022

O FUTURO ESTÁ NOS RECURSOS NATURAIS COMO A ÁGUA E OS FRUTOS DAS ÁRVORES DO MATO

 “A floresta produz mais riqueza do que o gado”, diz extrativista: a boa saída para a economia (e para a ecologia) da Amazônia não é a pecuária nem mesmo a soja nem o garimpo ou a extração de madeiras mas sim a silvicultura

 

Nova geração de extrativistas vai à luta

 

 Maria do Espírito Santo e José Cláudio Ribeiro ícones e vítimas fatais da luta dos extrativistas do Pará e da Amazônia

"Só nos aliando à natureza vamos nos sobreviver", argumenta Claudecir dos Santos, que vive de extrair castanhas e cacau sem estragar as matas No Pará, moradores de uma reserva extrativista mostram como é possível lucrar com a floresta sem derrubá-la. Mulheres são as principais defensoras dessa tradição e também alvos frequentes de ameaças. Em uma pequena vala no meio do caminho, Claudia dos Santos para o carro. Na beira do caminho, há uma grande cruz de madeira e, ao lado, os restos de uma placa de pedra destruída. “Eles atiraram nela. O nome do meu tio e da minha tia estavam gravados na pedra. Até hoje somos ameaçados porque protegemos a floresta”, fala a jovem que é sobrinha de José Cláudio Ribeiro, que junto com sua mulher, Maria do Espírito Santo, foi alvejado por dois pistoleiros neste local. O casal liderava uma comunidade extrativista no sudeste do Pará e se tornou um mito ecológico, também um grande alerta sobre a violência amazônica. Os extrativistas coletam e processam frutos da Amazônia, são os agricultores da floresta. Mas o Pará vem sendo desmatado a um ritmo raramente visto em outros lugares do Brasil. José Cláudio e Maria resistiam à destruição e denunciavam madeireiros e pecuaristas ilegais. Até serem assassinados. O site da Alemanha DW fez uma reportagem completa agora que foi postada também no portal Ambiente Brasil, aqui no blog Folha Verde News, um resumo desta situação que deveria ser melhor conhecida pelos atuais Presidenciáveis e eleitores, por todo mundo. 


Vítimas que se tornaram ícones eternas da Amazônia

 Ainda sobrevivem os seringueiros

 O Assaí hoje ganhou muito espaço da dieta fit das cidades

Povo da floresta sobrevive da floresta


Impunidade - Um dos pistoleiros foi condenado, assim como dois dos mandantes. Porém, o assassino já conseguiu fugir da prisão e um dos mandantes (um pecuarista que estava de olho em terras da reserva) escapou da polícia. “Vivemos com medo”, afirma Claudia dos Santos. O Pará abriga a segunda maior porção da Amazônia brasileira. Mas madeireiros, pecuaristas, sojeiros e garimpeiros ilegais avançam há anos sobre a floresta, invadindo áreas protegidas, reservas indígenas e territórios de extrativistas. Hoje em dia eles ficaram mais agressivos. O número de conflitos por terras no Pará é extremamente alto, ambientalistas, indígenas e comunidades tradicionais vivem perigosamente. José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito lideravam uma comunidade extrativista e foram mortos por pistoleiros e esta saga só cresce e continua.


 Inimigos da ecologia, desmatamento...

...mineração e garimpo ilegal...

...mas contra a destruição da floresta...

...os cientistas, os ecologistas, os extrativistas


Guerra cultural e ecológica - O termo extrativismo descreve a coleta de frutos que a natureza oferece. A prática é uma resposta importante para a pergunta sobre como é possível viver na região da Floresta Amazônica sem destruir o meio ambiente. “Meu tio e minha tia provaram que o extrativismo funciona”, afirma Santos. “Por isso, eles precisaram morrer. Eles mostraram que uma floresta intacta produz mais riqueza do que o gado". A jovem cresceu numa família de quatro integrantes na comunidade Praia Alta-Piranheira, famosa por suas castanhas-do-pará e que, em 1997, foi declarada reserva agroextrativista pelo Estado. José Cláudio Ribeiro e sua esposa desempenharam um importante papel para que isso ocorresse. Contudo, a demarcação não impediu madeireiros e pecuaristas de continuar invadindo os 22 mil hectares de área protegida. O Estado está em grande parte ausente na Amazônia e, em várias regiões, o que vale é a lei do mais forte.


 Claudecir Silva dos Santos contemporânea do futuro

Há também uma guerra cultural (e ecológica) no Pará. Em muitas partes do Brasil, a natureza ainda é considerada algo atrasado e importuno, que deve ser domado e de preferência eliminado para abrir espaço para o desenvolvimento econômico. O governo atual encarna esse ponto de vista por excelência, governantes falam de “árvores de merda” e defendem garimpeiros ou madeireiros ilegais. Para eles, aqueles que defendem a floresta são baderneiros. Os recordes de desmatamento na Amazônia não são uma coincidência.


 A floresta dá sustento e pode ser a alternativa para a bioeconomia  avançar na Amazônia, no Brasil, na América Latina


Sustento vindo da floresta - Depois dos assassinatos de José Cláudio e Maria, Santos e sua mãe, que também recebeu ameaças de morte, se mudaram para Marabá, que fica a duas horas e meia de carro da reserva. Lá Santos estuda e trabalha no instituto Zé Cláudio e Maria – uma ONG fundada por sua mãe para ajudar a manter de pé a luta por Justiça e a memória dos mártires socioambientais. Nesta tarde, ela vai à reserva para visitar a tia, Claudecir dos Santos, que deu continuidade à tradição do extrativismo. Depois de um longo trajeto numa estrada de terra e ao longo de pastagens, ela chega à área protegida, fácil de reconhecer devido à mata fechada. Para recebê-la, Claudecir matou uma galinha que prepara num fogão à lenha numa cozinha aberta. “Estou satisfeita com a minha vida”, diz a viúva de 57 anos. Na manhã seguinte, a mulher pequena e musculosa entra na floresta com um facão e uma cesta nas costas, cerca de 30 hectares de mata pertencem ao seu quintal. Ela conta que há quatro ou cinco frutos que a ajudam a ganhar a vida.  Em primeiro lugar, está a castanha-do-pará. Elas crescem em castanheiras e, em ouriços que parecem balas de canhão, as castanhas amadurecem envoltas cada uma em uma casca dura. A castanha-do-pará não pode ser cultivada em plantações, ela dá apenas na floresta. Essa é uma das razões para o alto preço de venda desse produto no mercado. Nutritivas, as castanhas possuem um elevado teor de proteína e gordura, além de muitos minerais. A castanha-do-pará não pode ser cultivada em plantações, ela dá apenas na floresta. Cada uma das dezenas de castanheiras na floresta produz por safra castanhas no valor de cerca de R$ 500, segundo Claudecir. Ela acrescenta que, ao longo dos anos, isso rende muito mais do que se derrubassem a árvore e vendessem sua valiosa madeira. Apesar de o corte da espécie ser proibido pela legislação brasileira, madeireiros continuam derrubando castanheiras. Eles simplesmente declaram a madeira como de se ela fosse de outro tipo, outra espécie e assim burlam a fiscalização que ultimamente não está nem aí. 


A ecologia da floresta pode criar o futuro da economia sustentável brasileira recolocando nosso país na vanguarda planetária 


Ameaças de morte - Faz dois anos que a mãe de Claudecir, que vive em Marabá, recebeu uma carta na qual estava escrito com letras recortadas: “Vamos acabar com o resto da família”. E essa não foi a única ameaça. Ao anoitecer, vestindo jeans e chinelos de dedo, Claudia dos Santos atravessa um riacho do qual vem a água usada por sua tia. As cigarras já começaram com sua cantoria ensurdecedora, e longe um grupo de bugios grita. Santos senta embaixo de uma castanheira imponente, que emerge para o céu de uma clareira. A idade da poderosa árvore é estimada entre 350 e 400 anos, ela conta. Sua família a batizou com o nome de Majestade. “Eu venho aqui para encontrar minha paz. Essa clareira é minha catedral”. Santos conta que há dois anos, na volta de uma visita à reserva com uma amiga, elas foram seguidas por uma pick-up com luz alta que chegava cada vez mais perto. “Entramos em pânico e aceleramos até que nosso carro quase capotou numa curva.” A jovem acredita que um pecuarista que tem uma fazenda na divisa com a reserva esteja por trás do episódio. O extrativismo, como o praticado por Claudecir Santos e sua família, é uma provocação. A economia predominante na região é a pecuária, que também se espalhou pela reserva extrativista. De 400 famílias que moram no local, apenas 20 ainda praticam a silvicultura. As outras possuem gado, o que contradiz o objetivo da reserva, mas é a realidade: “Querem lucro rápido. Pensam que só os que têm gado contam”, afirma Suena Nascimento, de 28 anos, que é professora numa escola rural e presidente do coletivo de extrativistas do qual 15 mulheres fazem parte. “Nós, mulheres, pensamos a longo prazo”, afirma a professora: “Algumas famílias que começaram a criar gado já se arrependeram”, diz, apontando que elas não calcularam os custos de fertilizantes para as pastagens, ração, vacinas e outros. “As primeiras a mudar de ideia são as mulheres. Os homens precisam de mais tempo. Mas o mais tardar quando a água se torna escassa e o solo esgotado, eles percebem que algo não vai bem. É preciso se aliar à natureza para sobreviver na Amazônia”, ressalta Claudecir Santos, a nova líder dos extrativistas do Pará. 


 O extrativismo e toda a bioeconomia representam uma das mais objetivas alternativas de desenvolvimento sustentável

Fontes: Deutsche Welle (DW) – Ambiente Brasil - folhaverdenews.blogspot.com


3 comentários:

  1. Já temos mais alguns dados para inserir nessa seção, venha conferir depois aqui.

    ResponderExcluir
  2. Você pode postar direto aqui a sua opinião ou se preferir envie o seu conteúdo (texto, foto, vídeo, notícia, pesquisa) para o e-mail do nosso editor padinhafranca603@gmail.com (mais tarde vamos divulgar o material recebido).

    ResponderExcluir
  3. "O extrativismo e toda a bioeconomia podem vir a ser uma das melhores alternativas para o desenvolvimento sustentável do Brasil e uma das saídas para a floresta sobreviver, o que deverá reequilibrar o clima, o meio ambiente e a condição de vida da população": comentário de Antônio de Pádua Silva Padinha, ecologista, editor deste blog.

    ResponderExcluir

Translation

translation