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sábado, 24 de outubro de 2020

POVO DA FLORESTA NO ACRE TRATOU DA COVID-19 SÓ COM PLANTAS DO MATO E COM A PROTEÇÃO DOS PAJÉS

"Só uma família na minha aldeia não chegou ser infectada com o Coronavírus", diz Ninawa falando do que aconteceu lá com a comunidade indígena acreana Huni Kuin povo da Amazônia em entrevista à BBC News 



Ninawa contou a BBC como foi a luta do seu povo da floresta ...

...que contou só com Pajés e a magia das plantas para escapar do Coronavírus


Praticamente sem acesso a serviços de saúde, os Huni Kuin trataram da Covid-19 somente com plantas medicinais nativas e doações, explicou Ninawa nesta reportagem e texto de Camilla Veras Mota, de São Paulo, reportagem e imagens de Fernando Crispim e José Monteiro, de Feijó (AC), e produção de Ana Terra Athayde, do Rio de Janeiro, "é um material de grande expressão e de valor para a gente entender a realidade brasileira no norte do país, que recebemos por e-mail aqui no blog da ecologia e da cidadania", comenta por sua vez o editor do blog Folha Verde News, Antônio de Pádua Silva Padinha. Confira a seguir alguns dos principais momentos deste material da BBC made in Brazil. 


A antiga cultura Kaxinauá do povo Huni Kuia...


...substituiu a medicina da cidade e jovens índias da tribo...

...criaram máscaras de proteção no estilo dos Hunis Kuias


Em meados de maio, o tio de Ninawa Inu Huni Kui, líder dos Huni Kuin, comunidade indígena espalhada pelo Estado do Acre, começou a sentir sintomas de gripe. Quando a tosse e a febre evoluíram para "dor no pulmão" e falta de ar, veio a desconfiança de que ele poderia ter sido infectado com a doença nova que circulava "na cidade". Maná duá Bakê foi o primeiro caso de Covid-19 da aldeia, que, em algumas semanas, viu praticamente todos os seus 200 habitantes, distribuídos em 40 famílias, caírem doentes. "Só uma família não foi infectada", conta Ninawa. A aldeia Maê Txanayá fica no extremo noroeste do país, próximo à fronteira com o Peru, no território Hênê Bariá Namakiá. Quatro dias antes de apresentar sintomas, Maná tivera contato com uma pessoa vinda de Feijó, o município mais próximo, que está a seis horas de barco pelo rio Envira. A localização remota explica, em parte, por que apenas duas pessoas chegaram a ser atendidas no hospital — uma mulher grávida e uma adolescente de 12 anos. A maioria foi tratada na aldeia mesmo pelos Pajés, com plantas medicinais do mato, utilizadas em chás, defumações e poções mágicas. 


 Pajés na medicina tradicional do povo do mato...


 ...conseguiram com plantas, poçoes e infusões...

...salvar esse povo do Acre da destruição pelo Coronavírus


No período da pandemia mesmo na aldeia, quando estava todo mundo acamado e bem complicada a situação, não apareceu ninguém da Saúde. Então os pajés tomaram essa decisão, com resultados muito positivos na utilização da medicina tradicional indígena. Porque, se fosse esperar por assistência do sistema de saúde, se fosse depender disso, acho que teriam acontecido coisas bem mais piores. Muitas mortes. Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde, o primeiro caso de covid em um indígena da aldeia foi oficialmente diagnosticado em 6 de julho no município de Feijó, uma mulher. "Dada a necessidade de monitoramento para identificação de possíveis novos casos, a equipe de saúde se dirigiu imediatamente à região, estando presente no local no dia 08/07, ocasião em que a coordenadora do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) Alto Rio Juruá também compôs a equipe", afirmou, em nota, a assessoria de imprensa deste serviço. Sebastião Carlos Oliveira Amorim Kaxinawá, genro de Maná, afirma, entretanto, que após o atendimento em julho a aldeia não teve mais contato com os agentes, a não ser pela visita de um dentista algum tempo depois. Ninawa foi o terceiro da aldeia a pegar a doença. Acha que foi infectado no hospital, já que, alguns dias antes, fizera um procedimento para retirada da vesícula. Não chegou a desenvolver uma forma grave de Covid-19, mas atingiu o que ele apelidou de "terceira fase": teve febre, diarreia, "dores no pulmão" e muita dor nas articulações. Como líder da Federação do povo Huni Kuin no estado do Acre, ele se divide entre a capital, Rio Branco, e a aldeia. E foi na cidade que ele ficou recluso por mais de um mês, já que o exame diagnóstico, depois dos primeiros 14 dias de quarentena, continuou dando positivo. "Depois eu fiz e não deu mais positivo. Foi quando eu saí para poder correr atrás de socorro pra ajudar o meu povo também". Comunidade fez vaquinha na Internet para garantir alimentação e alguns equipamentos médicos para os indígenas infectados ou ameaçados pelo Coronavírus. Por meio da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Ninawa e outros líderes indígenas da região se articularam para pedir doações. Do poder público, segundo ele, a aldeia recebeu algumas cestas básicas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), distribuídas pela Funai. No início, a principal necessidade era de alimentos, já que parte dos indígenas depende da cidade para comprar mantimentos e, naquele momento, o isolamento era quase total. Depois, a demanda era por materiais de limpeza e alguns equipamentos médicos. Carolina Marçal dos Santos, que trabalha na campanha Amazônia do Greenpeace, uma das entidades que se mobilizaram nesses últimos meses, conta que unidades de atenção primária indígena, algo semelhante a uma "enfermaria de campanha", chegaram a ser construídas dentro de alguns territórios. "Era prá que eles tivessem condições de enfrentar a situação ali dentro e não precisassem ser deslocados para regiões distantes". O projeto, batizado de Asas da Emergência, fez até o momento 68 voos para distribuir mais de 63 toneladas de doações, percorrendo mais de 96 mil km. "Faltam coisas básicas como sabão, álcool e coisas mais focadas para atenção de saúde, como cilindros de oxigênio, que a gente tem levado. Em muitas regiões não há energia, a gente precisa inclusive levar geradores para que possam ser utilizados esses equipamentos médicos", contou Carolina Marçal dos Santos. 


 

O coletivo de artistas indígenas Mahku ajudou muito...

 ...para mobilizar recursos e boas energias ao seu povo...

 ...através da arte da floresta dos Kaxinauás e Huni Kuins

Arte Huni Kuin tem base no sentimento e na magia da natureza, copie e abra este link no Youtube:

https://www.youtube.com/watch?v=O_eEa3FBTec


Os dados agora da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) apontam 30,7 mil casos de Covid-19 entre indígenas no país e 462 óbitos. Quase 80% das comunidades indígenas da Amazônia foram atingidas. No caso, a aldeia dos Huni Kuin soma 16 mil pessoas, não se sabe ao certo quantas foram afetadas (ou se curaram com plantas, defumações e poções). Levantamento feito pela Coiab apenas para a região amazônica com dados complementares fornecidos por lideranças e profissionais de saúde, entretanto, sinalizam um total bem maior: 26,1 mil casos e 676 mortes, com 132 das 170 comunidades indígenas da Amazônia atingidas, quase 80%. Uma das razões para a discrepância entre os números é o fato de que as informações oficiais consideram apenas os indígenas que habitam aldeias. A Coiab e o instituto de pesquisa ambiental da Amazônia (IPAM) argumentam, entretanto, que os indígenas formam um grupo de risco independentemente do local em que moram e, por isso, aqueles que vivem nas cidades também devem compor as estatísticas. Levantamento: a taxa de mortalidade por Covid-19 entre indígenas é 150% mais alta do que a média brasileira e 20% mais alta do que a registrada na região Norte (que é a maior do país). Detalhe: conforme o registro oficial, não há óbitos na aldeia de Ninawa, mas entre os Huni Kuin, que contam quase 16 mil habitantes distribuídos em 5 municípios diferentes, foram contabilizados 8 mortes quase todos idosos. "Com eles foi embora muito conhecimento, de todos os tipos, principalmente da medicina. Os anciões são nossas bibliotecas vivas", argumenta Ninawa. 


Foto de Cassandra Kury de criança Huni Kuin...


...um povo de grande beleza e tradição cultural nativa


Por ali no alto do Rio Juruá,  o próprio modo de vida das comunidades acaba facilitando o contágio de um vírus. São vidas de comunidade, em que tudo é muito compartilhado: "Todo mundo é acostumado a comer junto, estar junto, participando das atividades, dividindo a vida", diz Ninawa. Assim, na tentativa de conter o surto nas aldeias, além de orientar a população sobre a necessidade do distanciamento social, as lideranças indígenas chegaram a distribuir cartilhas e a gravar áudios na língua local explicando o que era a doença e como ela era transmitida. Hoje a situação está melhor, ele conta. Mas a ideia é "não facilitar", já que o Coronavírus continua circulando."O povo voltou novamente, não 100%, mas retomou o convívio social na comunidade", falou Ninawa, com um porém: "Sempre que tem uma reunião nas comunidades os pajés estão lá com as ervas e sua energia fazendo sua defumação". Cá entre nós, foi o que salvou este povo da floresta, que por enquanto sobrevive no Acre. 


(Confira depois outros trechos da reportagem BBC bem como outras informações sobre o povo Huni Kuin (Kaxinauá) na seção de comentários deste blog, onde vamos postar dois vídeos, um deles, de que participou em sua realização o escritor Ailton Krenak e um outro, um filme sobre este povo ancestral do Acre e da Amazônia que vale a pena conferir e salvar a bem da cultgura popular brasileira)



 Jovens criaram um jogo online sobre o povo Huni Kuin...


 ...no rio Juruá depois que ele se abraça com a floresta...

...como assim desta forma contou Ninawa

MAIORIA - 64,5% dos índios e índias de várias regiões e etnias entrevistados na pesquisa de Elaine Barbosa de Moraes, com apoio da Fapesp, respondem que preferem as plantas do mato do que os remédios de branco, logo mais esta informação vai estar nos comentários da matéria sobre o povo Huni Kuin do Acre, sem socorro da Saúde, o que salvou milhares de pessoas por lá do Coronavírus foi a sabedoria da natureza dos Pajés,


Fontes: BBC - Kaxinawá - Instituto Catitu - Coletivo Nahku

               folhaverdenews.blogspot.com



5 comentários:

  1. "Esta postagem muito legal, resumo da matéria da BBC, com mais dados e fotos, me remeteu ao tema da Medicina Indígena que merece ser mais debatido": comentário de Miguel Campos, que é biólogo e mantém empresa de Apicultura, a gente agradece, ele nos enviou um bom material do site IG dentro da plataforma Saúde. Confira a seguir parte das informações.

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  2. "Ao ouvir índios de tribos do Amazonas, 64,5% dos entrevistados confirmam a eficácia do método indígena em comparação com os remédios convencionais. Para os índios, alívio da dor vem mais com o uso do remédio da medicina tradicional indígena. MAIORIA - 64,5% dos índios e índias de várias etnias entrevistados na pesquisa de Elaine Barbosa de Moraes, com apoio da Fapesp, respondem que preferem as plantas do mato do que os remédios de branco, logo mais esta informação vai estar nos comentários da matéria sobre o povo Huni Kuin do Acre, sem socorro da Saúde, o que salvou milhares de pessoas por lá do Coronavírus foi a sabedoria da natureza dos Pajés": comentário no Facebook.

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  3. "Remédios convencionais não foram tão eficazes quando a medicina tradicional indígena para tratar dores entre os membros das tribos do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. A afirmação faz parte da conclusão da pesquisa feita pela mestra em enfermagem Elaine Barbosa de Moraes, com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp).

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  4. "Não tem a medicina natural e ancestral da China? Então, é preciso no Brasil pesquisar e ao menos respeitar a medicina tradicional indígena": comentário de Miguel Campos, biólogo e apicultor, do interior do Rio de Janeiro.

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  5. "Acredito que toda a cultura antiga dos índios, não apenas a sua medicina tradicional, merece ser ser analisada e quem sabe revalorizada. Minhas tias de origem indígena, quanto eu era pequeno benziam e curavam. Adultor, fazendo um documentário sobre seca, constatei e gravei para a TV Record de Franca, Pajés Xavantes fazendo um ritual com folhas e palavras mágicas na mata. Quando a equipe de reportagem estava indo embora, começou a garoar depois de meses sem chuva na região": comentário de Antônio de Pádua Silva Padinha, editor deste blog de ecologia, de cidadania e cultura da vida.

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