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Aqui, também, informações do blog de Sakamoto, da entidade Repórter Brasil |
"Inúmeros municípios já decretaram estado de emergência por conta da seca
prolongada no Nordeste. O nível dos açudes está baixo, sendo que alguns
já secaram. Plantações se perderam. Quem tem cisterna ou reservatório na
propriedade está conseguindo garantir qualidade de vida para a família e
as criações. Tempos
atrás, durante outra estiagem, fiz um ping-pong curto com João
Suassuna, engenheiro agrônomo e pesquisador da
Fundação Joaquim Nabuco.
Ele é um dos maiores especialistas na questão hídrica nordestina. Entrei
em contato com ele de novo e refiz as perguntas. Pouco mudou. Por
mais que haja evaporação e açudes sequem, a região possui uma grande
quantidade de água, suficiente para abastecer sua gente. Segundo
Suassuna, o problema continua não sendo de falta de recursos naturais,
mas de sua distribuição.O
Nordeste brasileiro é detentor do maior volume de água represado comparado a outras regiões semi-áridas do mundo. São 37 bilhões de metro cúbicos, estocados
em cerca de 70 mil represas. A água existe, todavia o que falta aos
nordestinos é uma política coerente de distribuição desses volumes, para
ao atendimento de suas necessidades básicas, uma democratização dos seus recursos hídricos. Esta distribuição de água -
e cá entre nós, com a captação da água subterrânea também - seria mais econômica e mais ecológica, mais viável e mais objetiva que o megaprojeto da
Transposição do Rio São Francisco, por exemplo. Este projeto governamental, remanescente de uma idéia que surgiu ainda na época do
Império, visa ao abastecimento de cerca de 12 milhões de pessoas no
Nordeste Setentrional, com as águas do rio São Francisco. Ele foi
idealizado para retirar as águas do rio da integração nacional através de dois eixos (Norte e
Leste), abastecer as principais represas nordestinas e, a partir delas,
as populações. Hoje, as obras estão praticamente paralisadas, com alguns
trechos dos canais se estragando com o tempo, apresentando rachaduras. O
projeto é desnecessário tendo em vista os volumes d´água existentes nas
principais represas nordestinas (
e na alternativa de captação nos lençóis freáticos, como do Piauí). Da forma como o projeto foi concebido e
apresentado, com o dimensionamento dos faraônicos canais,
fica clara a intenção das autoridades: será para o benefício do grande
capital, principalmente os irrigantes, carcinicultores [criadores de
camarão], industriais e empreiteiras. A
solução do abastecimento urbano foi anunciada pelo próprio governo
federal, através da Agência Nacional de Águas (
ANA), ao editar, ainda em
dezembro de 2006, o
Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água.
Nesse trabalho é possível, com menos da metade dos recursos previstos na Transposição, o beneficio de um número bem maior de pessoas. Ou seja,
os projetos apontados pelo Atlas, com custo de cerca de R$ 3,6 bilhões,
têm a real possibilidade de beneficiar 34 milhões de pessoas, em
municípios com mais de 5.000 habitantes. O meio rural,
principalmente para o abastecimento das populações difusas – aquelas
mais carentes em termos de acesso à água, poderá se valer das
tecnologias que estão sendo difundidas pela
ASA (Articulação do
Semiárido), através do uso de cisternas rurais, barragens subterrâneas,
barreiros, trincheiras, programa duas águas e uma terra, mandalas. Enquanto
isso, o orçamento do projeto de Transposição não pára de crescer. Pós-Ditadura, ainda no governo Sarney, ele foi dimensionado com um único eixo e tinha um
orçamento estimado em cerca de R$ 2,5 bilhões. Na gestão Fernando
Henrique, ganhou mais um eixo e o orçamento pulou para R$ 4,5 bilhões.
No governo Lula, saltou para R$ 6,6 bilhões. E, agora, no governo Dilma,
chegou na casa dos R$ 8,3 bilhões. Como se trata de um projeto de médio
a longo prazo, essa conta chegará facilmente à cifra dos R$ 20 bilhões
nos próximos 25 a 30 anos. Olha que no ano passado, a
Polícia Federal e a
Controladoria Geral da União constataram um desvio de R$ 312 milhões em
verbas do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (
Dnocs), que
poderiam estar sendo utilizadas para diminuir o impacto da estiagem
deste ano. Como disse, o problema (que não é novo) não é de falta e
sim de distribuição. De água, de decisões, de recursos. Enfim, de
cidadania. E não causada apenas pelo velho coronelismo, que foi
travestido de modernidade, e ainda assola a região. Mas pelas novas
políticas de desenvolvimento
(ou do "desenvolvimentismo", acrescentamos nós) produzidas sob a justificativa do
"progresso" e da renovação, mas que na realidade mantém tudo como sempre foi". (
Trechos de textos de Leonardo Sakamoto). Enfim, podemos concluir que tudo está como antes no reino da indústria da seca.
Fontes: Fundação Joaquim Nabuco
Repórter Brasil
blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br
http://folhaverdenews.blogspot.com
Segundo Sakamoto, o atual governo mudou a política de apoio à construção de cisternas que vinha sendo tocada pela ASA através do projeto “Um Milhão de Cisternas para o Semiárido”. Para acelerar a produção de cisternas (gigantes caixas d'água que guardam a água da chuva), as placas de cimento foram trocadas por pré-moldados de polietileno – que podem deformar com o calor, custam mais que o dobro que os feitos com a matéria-prima anterior, não utilizam mão-de-obra local na sua confecção (não gerando renda) e tem manutenção mais complexa do que se fossem feitos de alvenaria.
ResponderExcluirVariadas entidades socioambientalistas e organizações sociais criticaram a tomada de decisão centralizada, sem questionar quem vem executando e se beneficiando da política pública na caatinga, como neste caso citado antes das cisternas. Ou como a falta de atenção e de uso de estudos realizados por geólogos, como do IPT da USP.
ResponderExcluirAlertamos mais uma vez que o problema (que não é novo) não é de falta e sim de distribuição. De água, de decisões, de recursos. Enfim, de cidadania. Falta de vergonha. E de um programa de desenvolvimento sustentável.
ResponderExcluirExistem pesquisas comprovadas de soluções econômicas e ecológicas, como a captação e distribuição de águas subterrâneas. Mas carece de uma gestão verdadeiramente pública e sustentável no Nordeste, onde ainda predomina no reino da caatinga a indústria bilionária da seca.
ResponderExcluirMande vc tb o seu contato, as suas informações ou pesquisas, a sua mensagem ou opinião sobre esta pauta (água para a seca do nordeste e da política do país)...Envie para navepad@netsite.com.br
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