Água doce subterrânea no Piauí mostra que seca do Nordeste é falta de gestão sustentável
Só o Piauí abriga um volume de águas subterrâneas quatro vezes maior que a Baía de Guanabara, mas os projetos para aproveitá-las estão engavetados: esta é a advertência do geólogo João Alberto Bottura, que nos últimos vinte anos como pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT de São Paulo), já trabalhou em cerca de vinte projetos de estudos de águas subterrâneas no Nordeste e um outro para extrair água no Deserto do Saara. Porém, enquanto seu trabalho para Muammar Khadafi está ajudando a transformar o deserto líbio em um pomar, os estudos feitos no Brasil continuam dormindo placidamente nos arquivos e prateleiras dos vários órgãos públicos que os encomendaram. “O Nordeste tem pesquisas e conhecimentos suficientes para otimizar o uso dos recursos hídricos disponíveis”, afirma Bottura. “O que falta é a decisão política de aproveitá-los". A certeza de que não falta água no Nordeste não é nova. Já em 1984, o Projeto Radam, do Ministério das Minas e Energia, constatava através de sensoreamento remoto a existência de um potencial de 220 bilhões de metros cúbicos de água nas áreas mais afetadas pelas secas. Desse total, 85 bilhões de metros cúbicos estavam na superfície da terra e 135 bilhões subterrâneas, sendo 15 bilhões em rochas cristalinas, de difícil perfuração, mas 120 bilhões em rochas sedimentares, mais fáceis de perfurar para alcançar o lençol freático. Somente no Piauí, afirma por sua vez o geólogo Aldo da Cunha Rebouças, presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, o reservatório hídrico sob a terra é superior em quatro vezes à Baía de Guanabara, o que sinaliza o potencial hídrico so subsolo nordestino. Um exemplo desse potencial é o poço Violeta, no vale do Rio Gurguéia, no sudoeste do Piauí, o poço de maior vazão da América Latina, com um jorro de 800 000 litros por hora, à temperatura de 60° e altura de 27 metros — equivalente a aproximadamente um edifício de nove andares —, suficiente para abastecer só ele uma população de l00 000 pessoas. “No entanto, toda essa água está jorrando em vão, sem ser utilizada para matar a sede das pessoas ou irrigar plantações”, indigna-se o piauiense José Luiz Albuquerque Filho, também hidrogeólogo pesquisador, há treze anos no IPT paulista, diante do incrível desperdício de 70 bilhões de litros de água nos últimos dez anos, desde que o poço de 1 000 metros de profundidade foi aberto. Isso em plena região do Polígono das Secas. E o desperdício não pára por aí. Chove no Polígono uma média de 400 a 700 milímetros por ano. Sete vezes mais, por exemplo, que na Califórnia, uma das regiões de agricultura mais desenvolvidas no mundo. A diferença está no gerenciamento desses recursos. Enquanto na Califórnia cada litro é criteriosamente estocado e aproveitado, o Nordeste do Brasil (passando agora pela maior seca dos últimos 30 anos) morre de sede enquanto a água se evapora sem uso por falta de redes de distribuição. "Estas pesquisas do IPT da USPconfirmam que o problema da seca nordestina é da natureza mas também da política, tem a ver com a falta de uma gestão de desenvolvimento sustentável", argumenta aqui no blog da ecologia e da cidadania Folha Verde News o repórter e ecologista Antônio de Pádua Padinha, editando este post que se baseia em informações também de sites como da revista Superinteressante, da Abril, da Isto É, do Piauí e da Rádio AM 9 de Julho de São Paulo, jornal Mundo Lusíada.
Nordestinos sofrem a seca lamentam a falta de solução para o problema |
O potencial de água subterrânea existente no semi árido poderia evitar a pior seca dos últimos tempos |
Energia Eólica sinaliza esperança ao Nordeste assim como o potencial de água subterrânea |
Segundo a Funceme, Fundação Cearense de Meteorolgia e Recursos Hídricos, somente o projetado açude Castanhão, com seu espelho de água de 650 quilômetros quadrados, poderá perder anualmente 1 bilhão de litros por evaporação. Pior ainda é quando se armazena a água apenas para torná-la inutilizável. “Os rios do Polígono das Secas arrastam o sal da terra, depositando-o nas proximidades do oceano”, explica o geógrafo Aziz Nacib Ab’Sáber, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e um dos mais profundos e abrangentes estudiosos do Nordeste e seus problemas. Um erro muito freqüente na construção dos açudes nordestinos pode, porém, anular essa ação. “Grande parte dos açudes da região não possuem descarregador de fundo, uma válvula próxima à base da barragem para liberar os excessos de água”, conta o pesquisador José Alberto Bottura, do IPT da USP. Com isso, o sal acaba acumulando-se no fundo dos reservatórios e, com o tempo, salinizando toda a água. O que pode transformar em realidade o delírio profético de Antônio Conselheiro no final do século passado ao afirmar que “o sertão vai virar mar”. Desgraçadamente para os sertanejos, entretanto, um mar de águas salgadas, inútil para matar sua sede.O Nordeste brasileiro tem, pelo menos, seis Estados sofrendo com a seca, a maior dos últimos tempos. Por isso, cerca de 10 milhões de pessoas experimentam mais uma vez o repetitivo drama. O índice de chuva abaixo da média nesses estados chegou a ser de 75% entre fevereiro e março. Para muitos é a maior seca em 50 anos. Segundo os meteorologistas, a estiagem é um fenômeno complexo de causas até distantes do próprio local atingido, isto é, são correntes aéreas que cruzam o Oceano Pacífico, mais temperaturas das águas do Atlântico, influenciadas pelo Polo Norte que, em conjunto, causam o transtorno. Variações entre 0,5 e 1º de decidem isso. Então, se estes fatores não resultarem em chuva até 19 de março, dia de São José, os moradores já sabem que vai doer. E a asa branca vai bater asas do sertão. Como acontece agora. "Seca no Nordeste não é fatalismo. Soluções existem, portanto, desde o século passado. Resta saber quando os beneficiados com a ‘indústria da seca’ irão largar a imoral mamata em benefício da comunidade", diz por sua vez José de Almeida Amaral Júnior, Professor universitário em Ciências Sociais, Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação, escreve no Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo. Ele informa ainda que Pesquisa em conjunto da USP com a Secretaria da Agricultura de Pernambuco revela que 17% das propriedades rurais do sertão e do agreste nordestinos fecharam as porteiras por causa da seca e 50% dependem de carro-pipa para conseguir água. Em Pernambuco, por exemplo, o rebanho bovino foi reduzido a quase a metade: de 2,1 milhões de cabeças de gado, 200 mil morreram, 300 mil foram transferidas para outras regiões e 500 mil foram abatidas precocemente. Um enorme desperdício de recursos em meio ao rotineiro sofrimento daquela gente. Aliás, sem registros até aqui de saques. Em duas palavras para sintetizar a coisa: vergonha nacional.
Fontes: SBPC
IPT da USP
www.super.abril.com.br
www.istoepiaui.com.br
www.mundo lusiada.com.br
http://folhaverdenews.blogspot.com
O pesquisador João Alberto Bottura, do IPT da USP, conseguiu extrair água no subsolo do deserto de Saara na Líbia, mas suas 9 pesquisas positivas no Nordeste do Brasil não foram ainda usadas pelo país, mostrando que a seca é também falta de gestão sustentável.
ResponderExcluirSó agora deram a primeiras e fracas chuvas no Nordeste, que ainda são insuficientes diante da maior seca dos últimos tempos, mesmo assim, os pesquisadores do IPT e da SBPC argumentam que chove nas terras nordestinas até 7 vezes mais do que na Califórnia, nos Estados Unidos, uma das regiões mais prósperas do planeta, no entanto: ou seja, onde está o problema?...
ResponderExcluirA atual indústria da seca, que se prolonga há mais de 100 anos em todo o semi árido brasileiro, é o principal problema, ela precisa ser substituída urgentemente por um programa de Desenvolvimento Sustentável, tendo como ponto de partida as conclusões dos pesquisadores brasileiros.
ResponderExcluirMande vc tb a sua mensagem, informação, opinião ou comentário sobre esta nossa pauta (a seca e a esperança sustentável) aqui para o e-mail do nosso blog: navepad@netsite.com.br
ResponderExcluir"Passando aki só prá elogiar esse blog, enquanto doa a mídia só fala em desgraça, também quanto ao Nordeste, vocês pelo menos sugerem uma saída prá seca que realmente não pode continuar": este e-mail nos foi enviado da USP e assinado por PBR, Romão. Obrigado, vamos juntos.
ResponderExcluirInternauta de Brasília nos mandou uma cópia do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Semiárido, formulado ainda em 2005, por técnicos do Ministério da Integração Regional: em resumo, o documento diz que "Concretamente, as iniciativas derivadas da orientação estratégica do PDSA destaca o papel da indústria (de pequena e grande escala) e reforça a necessidade de manter e ampliar as redes de infra-estrutura, com destaque para a de infra-estrutura hídrica. Ao mesmo tempo confere prioridade às seguintes apostas: Revitalização da Bacia do Rio São Francisco; Integração de Bacias Hidrográficas; Hidrovia do São Francisco; Ferrovia Transnordestina; Agricultura Irrigada:
ResponderExcluirAgronegócio e Revitalização de Perímetros Públicos; Energia Alternativa: Biodiesel, Gás Natural e Outras Fontes Não-fósseis de Energia; Mineração; e Refinaria da Petrobrás".
Recebemos de Crato, Ceará, alguns comentários que o internauta e estudante de Geologia Antônio Alves nos mandou, um deles aqui está, foi dito pelo jornalista Leonardo Sakamoto em seu blog: "No ano passado, a Polícia Federal e a Controladoria Geral da União constataram um desvio de R$ 312 milhões em verbas do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), que poderiam estar sendo utilizadas para diminuir o impacto da estiagem deste ano".
ResponderExcluironde eu acharia os estudos do João Alberto Bottura sobre o nordeste?
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