Mesmo sem nenhum apoio da Feac ou da Prefeitura Municipal, que em Franca apóia a maioria dos shows na cidade, a comunidade do rap da cidade e da região está trazendo até aqui um dos ícones desta cultura negra urbana, o cantor, poeta e compositor Marcos Fernandes de Omena, Dexter. Ele e todos os rappers em geral ainda são vistos não só por aqui no interior com precoceito ou subestimados, diante do valor cultural que representam, na luta para criticar e mudar a realidade. Foi o que explicou Cláudio Roberto dos Santos, o rapper e líder da comunidade Kaos, que está trazendo Dexter até aqui, sábado na Contramão, pela primeira vez no norte e nordeste paulista. No domingo, na rua, ao lado do Ginásio Poliesportivo do Leporace, entre 13 e 19h, Dexter poderá estar participando da domingueira local e regional dos rappers daqui, juntamente com Calibre X, Preto Cria, Opção Fatal, Meta Final, o próprio Kaos, LaKa, Robinho, grupos de dança street de repente poderão também aparecer na festa.
Também no Contra Disco Club, centro de shows e hip hop, após esta apresentação de Dexter (8º Anjo), haverá dia 26 MixTapte, com participação dos grupos Revolução, Opção Fatal e DJ Bola, tendo como convidados entre outros, Molusco.
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Um ícone do movimento rap Dexter é uma voz autêntica |
Marcos Fernandes de Omena, que tem 37 anos, o Dexter, é de São Paulo, um ícone do rap no Brasil. Ele começou por volta de 2000 e atualmente está com força total neste gênero de música e de cultura ou contracultura. Tem ligações com Mano Brown e outros líderes negros e da periferia, a sua carreira é bem no clima das letras: formou junto com Afro-X o grupo 509-E, enquanto estava encarcerado. O primeiro disco foi gravado de dentro da prisão em 2000. Depois que seu parceiro conseguiu a liberdade, se desentenderam e o grupo foi desfeito. Ambos estavam presos por assalto a mão armada. No ano de 2005, lançou seu primeiro disco solo: Exilado Sim, Preso Não, que contou com participações especiais de Mano Brown dos Racionais MC's, MV Bill e GOG.
Numa entrevista para o jornalista Paulo Markum na TV Cultura (Roda Viva), surgiu o seguinte comentário:
A música de Mano Brown, Dexter, dos Racionais MC’s e de outros rappers deixa claro o conflito entre o centro e a periferia. Entre o Brasil dos incluídos e dos excluídos. O grupo se transformou numa expressão das idéias sobre consciência negra no Brasil. E fez dessa percepção sua marca no rap brasileiro. A TV Cultura é uma exceção na grande mídia, abrindo sempre espaço para esta arte alternativa, de rua. O Brasil precisa descobrir a força deste movimento. Ele não é só rebeldia, tenta também valorizar as raízes negras dos brasileiros, a busca da liberdade e da paz em meio à realidade de violência e injustiça social. Música ou poesia de protesto sim, mas para criar um futuro diferente na vida do país e do ser humano. (Padinha)
Uma história de rebeldia
Na Internet (Google) está lá: o rap surgiu na Jamaica na década de 1960. Fora dos Estados Unidos e muito antes de estrelas como Eminem, Snoop Dogg e Public Enemy [grupos e artistas de rap estadunidenses] ganharem prêmios. Com os aparelhos de sons nas ruas, líderes aproveitavam os intervalos das músicas para falar sobre a violência das favelas, racismo, drogas, sexo e a situação política. Com letras duras, o estilo do rap conquistou espaço e em pouco tempo estava presente em outros países como França, Japão e Brasil. O nome mais conhecido do rap no país é Pedro Paulo Soares Pereira, pouco conhecido por esse nome, mas que não passa pela periferia sem ser reconhecido como Mano Brown. Líder do maior grupo de rap do Brasil, os Racionais MC’s, ele é um dos artistas mais ouvidos nas regiões mais pobres do país. O grupo - formado em 1997, com o disco Sobrevivendo no Inferno, os Racionais MC’s venderam mais de 500 mil cópias sem uma grande rede de distribuição por trás e ganharam vários prêmios. Mano Brown é também parceiro de Dexter, por exemplo, no rap que mostramos em parte aqui, Eu Sô Função:
"[Função]
Sô função, pra quem não tá ligado me apresento
e as ruas represento
Dá licença aqui pra eu chegar nesse balanço
É quente negrão a idéia que eu te lanço
Estilo original de bombeta branca e vinho
Vai, só não vai pra grupo com neguinho
Ando gingando cuns braços pra trás
Só falo na gíria e pros bico é demais
Sô forgado afronto os gambé, sô polêmico
Na favela o meu diploma acadêmico
De tênis all star, de cabelo black
Meu beck, a caixa e o bumbo e o clap
Cresci ali envolvidão qua função
Na sola do pé bate o meu coração
Esse som é do bom, dá uns dois e viaja
Nós somos negros não importa o que haja
O ritmo é nosso trazido de lá
Das ruas de terra sem luzes e pá
O fascínio não morre ele só começô
Das festa de preto que os boy não colô
Sô o que sô vivo aquilo que falo
Meu rap é do gueto e não é pros embalo"...
Contatos: Robinho (16) 9251.9761 e Kaos (16) 9324.7210
Muitos dos rappers, como o francano Kaos, lutam também pela não-violência e pela cultura da vida, isso os faz importantes para todo o movimento da juventude: Dexter é um líder da arte e cultura alternativa, negra, a linguagem da rua na música de agora.
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