O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O CLIMA E O MEIO AMBIENTE NA AUSTRÁLIA É UM ALERTA TAMBÉM PARA O BRASIL

Como a crise climática e o caos ambiental estão tornando cada vez mais inabitável o país para os australianos é tema de Shaima Khalil e Ttiffane Tumbull em Brisbane em matéria para a BBC

Energias fósseis, carvão, poluição provocam enchentes ou...

...secas na Austrália que chegaram a uma situação limite

A população já considera ser hoje uma prioridade abandonar os combustíveis fósseis (como o carvão) e recuperar com toda urgência a ecologia da vida, diante das crescentes mudanças climáticas e desequilíbrios ambientais. Porém, os políticos e governantes não tiveram até agora a coragem e o bom senso de mudar e de avançar a estrutura da realidade. Veja isso em exemplos práticos do que ocorre atualmente na  Austrália, já vivenciando uma situação limite. Sam Bowstead é um arquiteto especializado em preparar casas para resistir a desastres naturais. Mas quando as inundações engoliram a sua própria residência em Brisbane, em fevereiro, ele passou a se sentir impotente: "Eu trabalhei com pessoas que estiveram em situações semelhantes. Agora isso aconteceu comigo. Fiquei chocado com o quão rápido a água subiu mais de um metro em algumas horas. Passei de preocupado com a nossa propriedade para preocupado com a  segurança e a vida de todos". No final, um barco foi a única saída. Esta experiência de Bowstead se tornou cada vez mais comum para os australianos. Nos últimos três anos, incêndios florestais e inundações recordes mataram mais de 500 pessoas e bilhões de animais. Secas, ciclones e marés altas assolam as comunidades. A mudança climática é uma preocupação fundamental para quem foi votar nas eleições da Austrália no sábado, assim como o custo de vida no dia a dia,  essas questões estão complicando cada vez mais como nunca antes.

 

A perda da ecologia na Austrália...

   

...provoca problemas também na economia além de caos ambiental

A Austrália está enfrentando uma crise de seguridade, com uma em cada 25 casas a caminho de se tornar inviável para ser coberta por seguro até 2030, de acordo com um relatório do Climate Council. E uma em cada 11 corre o risco de ficar com seguro insuficiente. O seguro para as casas de maior risco será proibitivamente caro ou recusado pelos provedores, que criou um mapa interativo para os australianos pesquisarem. "As mudanças climáticas e ambientais estão acontecendo em tempo real aqui e muitos australianos agora descobrem ser impossível fazer um seguro para suas casas e negócios", diz a presidente-executiva da entidade, Amanda McKenzie.. O maior problema é em Queensland, estado que abriga quase 40% das 500 mil casas que, em breve, não serão mais cobertas por seguros. É que Queensland foi devastada por inundações nos últimos meses. Em fevereiro, a capital do estado, Brisbane, teve mais de 70% de sua precipitação média anual em apenas três dias."Ainda me sinto bastante traumatizada quando chove muito", diz Michelle Vine, cuja casa em East Brisbane foi destruída junto com décadas de suas obras de arte. "Tivemos que sair da casa, ela se tornou inabitável".

 

 A linda Austrália está ficando inabitável

As seguradoras dizem que as inundações, que também atingiram Nova Gales do Sul, se tornarão o evento climático mais constantes da Austrália. Mas mesmo antes deste ano, os custos de seguro dispararam. Embora o aumento dos preços dos imóveis seja um fator, o principal órgão da indústria de seguros da Austrália aponta o dedo para as mudanças do climna e os desequilíbrios do meio ambiente. Ao longo da última década, o valor pago pelas seguradoras por danos causados ​​por desastres naturais praticamente dobrou. Em média, os consumidores agora pagam quase quatro vezes mais pelos prêmios de seguro residencial do que em 2004. No norte da Austrália, esses números são ainda mais extremos e em alguns casos, 10 vezes maiores do que em outros lugares. Mais australianos estão sendo forçados a fazer um seguro insuficiente, comprar apólices mais baratas que cobrem muito pouco ou abrir mão completamente da segurança. "Esta é provavelmente a questão de custo de vida mais importante da Austrália", avalia Antonia Settle, economista política da Universidade de Melbourne: as famílias que não têm seguro correm o risco de perder seu ativo mais importante". Propriedades em áreas de alto risco estão se tornando mais baratas para comprar e alugar, muitas vezes atraindo pessoas menos capazes de pagar um seguro adequado, agravando o impacto financeiro dos desastres. "As pessoas não estão se afastando de lugares ameaçados pelo clima na Austrália. Na realidade, é provável que se movam por necessidade em direção a eles", diz a demógrafa Liz Allen, da Universidade Nacional Australiana: "A questão da acessibilidade à habitação na Austrália é tão terrível que as pessoas veem a catástrofe climática quase como uma barganha, uma forma de garantir que possam ter um lugar para chamar de seu, apesar de todos os perigos, até do   risco de vida. O fenômeno também pode agravar a desigualdade social e criar guetos climáticos'", alerta a Climate Valuation, empresa de análise de risco.

O drama climático e ambiental está fazendo o povo...

...lutar por energias limpas e pela ecologia de volta

Vine é um exemplo disso. Ela diz que foi atraída para uma área vulnerável pelo preço. Na época, ela sentiu como se tivesse "ganhado na loteria". Bowstead fez uma escolha semelhante. E uma vez em uma área de risco, é quase impossível para muitos sair, como é o caso de Gary Godley na cidade de Grantham, a oeste de Brisbane. Dada a terrível história de enchentes de Grantham - 12 pessoas morreram lá em 2011 e não há compradores para sua casa.

 A população exige que políticos mudem e avancem a estrutura energética e a realidade do país

O governo prometeu bilhões para ajudar a "ressegurar" as seguradoras contra grandes sinistros resultantes de desastres naturais e ambientais, argumentando que isso reduzirá pela metade os prêmios para as pessoas no norte da Austrália. Mas é uma política arriscada, não é algo que o Conselho de Seguros da Austrália ou o órgão de fiscalização da indústria do país recomendam. Os críticos apontaram que os desastres agora são frequentemente devastadores em áreas fora do norte da Austrália que não serão cobertas por essa política governamental. Em vez disso, eles estão pedindo que o governo limite o desenvolvimento de áreas residenciais em áreas de alto risco, considere comprar imóveis de alguns proprietários ou crie incentivos para que as pessoas tornem suas propriedades resistentes a desastres. A resposta óbvia é abordar seriamente o problema da mudança climática e do meio ambiente, embora isso seja algo que sucessivos governos têm relutado em fazer. Após grandes incêndios florestais em 2019 e 2020, os australianos foram orientados a se preparar para um futuro alarmante de desastres simultâneos e cada vez mais graves. No entanto, para uma nação tão exposta às mudanças climáticas, a Austrália continua sendo um dos maiores emissores de gás estufa do mundo por habitante. O governo do primeiro-ministro Scott Morrison prometeu reduzir as emissões em 26% até 2030. Os trabalhistas, sob Anthony Albanese, prometeram um corte de 43%. Ambas as metas estão abaixo dos 50% recomendados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, indicadas pelos cientistas das Nações Unidas. O problema do carvão é grave. A maioria dos australianos quer uma ação climática mais dura, mas tanto o partido do governo quanto o trabalhista mantiveram silêncio sobre o assunto ainda durante esta última campanha eleitoral. Na cidade de Gladstone, na região central de Queensland, a razão para isso é evidente. A poluição do uso de combustíveis fósseis como o carvão é parte importante da economia (e da falta de ecologia) de Gladstone. O produto é enviado do porto local e ajudou a Austrália a se tornar o segundo maior exportador global, além de criar milhares de empregos. Phil Golby, um funcionário local do Sindicato dos Trabalhadores de Manufaturados da Austrália, diz que "a mudança é inevitável", mas teme que os trabalhadores da indústria de combustíveis fósseis sejam deixados para trás.

 Avançar a energia e recriar a ecologia

Carvão e combustíveis fósseis estão no centro da discussão sobre prosperidade, política e os perigos ambientais da Austrália. Portanto, eliminar gradualmente os combustíveis fósseis é uma questão politicamente tóxica que nenhum grande partido quer enfrentar de frente, especialmente durante uma eleição. Isso frustra Bowstead. Para ele e tantos jovens, há uma ansiedade real sobre o impacto da mudança climática e ambiental na forma como as pessoas vão viver na Austrália no futuro próximo. Isso já está acontecendo agora. Em geral as pessoas já concluiram (os políticos não) que terão que assumir a responsabilidade e suportar o peso disso por muito mais tempo, não podendo contar com a maioria das autoridades que estão no poder agora e que não consideram na devida conta o valor do desenvolvimento sustentável e da recuperação da ecologia da vida no país. 

 Tem tudo a ver Austrália e Brasil 

Fontes: BBC - folhaverdenews.blogspot.com