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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

ÍNDIOS DA ETNIA KARIPUNA CONSEGUIRAM EXPULSAR INVASORES DE SUAS TERRAS E ESTÃO BUSCANDO RECRIAR A SUA VIDA AGORA

Em Rondônia onde vivem os últimos remanescentes do povo Karipuna que foi vítima de um genocídio enfrenta uma realidade comum a todas terras indígenas na Amazônia: está sob ameaça de madeireiras, pecuaristas, grileiros e garimpo, porém, está conseguindo mudar esta situação, veja como aqui, agora


Aldeia Karipuna em Rondônia...

  ...ameaçada por madeireiros, grileiros, pecuaristas


Foi organizada uma articulação institucional formada pelas lideranças Karipuna, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Greenpeace conseguindo monitorar, sistematizar e fornecer informações precisas sobre as atividades criminosas dentro desta terra indígena. A mobilização serviu de base para operações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em 2018 e 2019 que desmanchou as organizações criminosas que atuam na região. Somada às denúncias feitas em instâncias da ONU e no Vaticano, a pressão resultou na queda do desmatamento na região também. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, a redução na derrubada ilegal de vegetação nativa dentro da TI foi de 49% em relação ao mesmo período do ano anterior, ficando em 580 hectares. O pico do desmatamento havia sido entre 2017 e 2018, ultrapassando 1.500 hectares, o que colocara a TI Karipuna entre as mais desmatadas do país. A expulsão completa dos invasores, porém, ainda é uma meta a ser alcançada, explicou Danicley de Aguiar, que atua neste caso pelo Greenpeace: “A terra Karipuna é um exemplo claro do que está acontecendo na Amazônia. Não se trata de desmatamento isolado ou roubo de recurso natura, mas uma espiral de invasões que se apropriam do território. E para acabar com isso não adianta só comando e controle”. Para Aguiar, a articulação feita na TI Karipuna pode servir de referência para acabar com organizações criminosas que atuam em diversas terras indígenas na Amazônia: “Só o Ibama não dá conta. É preciso o envolvimento da Polícia Federal, uma investigação profunda, atingir o crime organizado que está por trás do processo de grilagem. Enquanto as pessoas não perceberem que podem ir para a cadeia, elas irão continuar grilando”, nos informou ainda Danicley de Aguiar. 


 As ameaças ao povo Karipuna são comuns a todos os povos da floresta na Amazônia e no Cerrado


Deflagrada em junho de 2019, a operação SOS Karipuna contou com a articulação de oito instituições de nível federal e estadual e resultou na expedição de 15 mandados de prisão e 34 de busca e apreensão, além do sequestro de bens dos investigados em valores superiores a R$ 46 milhões. Os delitos apurados nos inquéritos policiais incluem estelionato, furto ilegal de madeira, receptação, invasão de terras da União, desmatamento ilegal, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e constituição e participação em organização criminosa. É esse modelo de atuação que pode e deve ser replicado, acreditam índios, ecologistas e antropólogos. Não é um caso isolado que não possa ser reproduzido, pelo contrário. É um caso a ser exportado para toda a Amazônia. Os Karipuna provam que, quando sociedade civil e estado se articulam, este mutirão consegue pôr um fim a estas redes criminosas.


 As sequelas das invasões estão por todo lado...

...mas o mutirão do SOS Karipuna protegeu cada família  


Adriano Karipuna, líder deste povo nativo, conta que as ameaças de morte por madeireiros eram constantes e que as invasões estavam a 1 quilômetro da aldeia, inviabilizando o livre trânsito dos indígenas em seu próprio território e o seu modo de vida, que inclui a pesca, a caça, o extrativismo e plantações de subsistência. Só após a repercussão internacional é que as medidas começaram a ser articuladas e as investigações andaram, avalia Adriano Karipuna. Para exemplificar, ele falou numa sessão do Fórum Permanente sobre assuntos indígenas nas Nações Unidas em Nova York e isso despertou a atenção da mídia mundial e de entidades internacionais. Ele também levou a denúncia de genocídio do seu povo na ONU, na Suíça e o Papa Francisco, dentro do Sínodo da Amazônia“No Brasil nossa luta repercutia muito pouco. Após a repercussão internacional tudo mudou”, nos conta Adriano Karipuna. Quase extintos na década de 1970 e reduzidos a apenas quatro sobreviventes, hoje os Karipuna já são cerca de 70 pessoas, informa o líder, incluindo crianças, idosos e adolescentes, a metade vive na aldeia, a cerca de 200 quilômetros da capital Porto Velho.

 A cultura e as tradições do povo Karipuna...

...incluem o amor e a proteção à floresta


As ações ao lado do Cimi e do Greenpeace incluíram sobrevoos para identificar as manchas de desmatamento e expedições terrestres que percorreram até 150 quilômetros para mapear com coordenadas geográficas os pontos de invasão. Na visão de Adriano Karipuna, o Estado brasileiro tem total responsabilidade sobre os crimes contra indígrenas. Segundo ele, o governo federal incentiva os grileiros com o discurso oficial de que pretende reduzir as terras indígenas e entregá-las aos invasores: “Nós cobramos a responsabilidade do governo que tem coparticipação em todo esse crime quando deveria proteger os territórios indígenas, mas acaba entregando aos invasores. E boa parte dessa madeira extraída é vendida dentro do Brasil”.  alerta o líder Karipuna.


A invasão da Terra Indígena Karipuna...

  ...está contida por enquanto...


(Depois na seção de comentários deste blog Folha Verde News mais informações sobre esta luta SOS Karipuna e dos povos indígenas em geral no Brasil, nesta edição vamos postar dois vídeos, um deles um especial da equipe Greenpeace sobre este povo de Rondônia e outro da Agência Pública, resumindo a questão indígena no país agora)


 ...e este é o desafio Karipuna de todos os dias


Fontes: Mongabay - Greenpeace - Cimi - Reuters

                folhaverdenews.blogspot.com


6 comentários:

  1. "Em reunião dos BRICS em novembro, o governo federal prometeu que iria “expor” os países que compram madeira ilegal do Brasil, ignorando que 80% da madeira que sai da Amazônia é vendida dentro do próprio país. Além disso, investigações já revelaram há muito tempo os destinos da exportação de madeira de origem criminosa. E o governo por sua vez afrouxou leis que facilitam justamente a extração e exportação ilegal de madeira. Por fim, como é de praxe, Brasil no prejuízo": comentário extraído da matéria sobre o povo Karipuna feita no site Mongabay

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  2. "Para Laura Manso, coordenadora do Cimi em Rondônia, o discurso de ódio e intolerância do governo federal — segundo o qual indígenas, ambientalistas e comunidades tradicionais são “entraves para o desenvolvimento” — deu legitimidade aos invasores de todos os tipos": comentário sobre os Karipuna em matéria no site do Greenpeace.

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  3. “As invasões se tornaram mais agressivos. As ameaças de morte às lideranças do povo Karipuna são constantes. Durante as expedições, nós não dormíamos com medo de que a qualquer hora chegariam e matariam todos na aldeia. Os invasores foram legitimados e apoiados com esse discurso de intolerância e preconceito”: comentário de líder indígena Karipuna ao site do Cimi.

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  4. A agência de notícias Reuters fotografou e está divulgando uma ponte clandestina de acesso à Terra Indígena Karipuna, registrada em sobrevoo em setembro de 2020. Também fotos de Christian Braga/Greenpeace Brasil.

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  5. "Nem homologação da terra garantiu a paz dos indígenas, isso é um fato. A homologação é a última fase de demarcação de uma terra indígena. Significa que todas as etapas foram cumpridas e que o povo foi reconhecido oficialmente como habitante tradicional daquele território. Esse processo, no entanto, pode durar décadas. E muitos povos encontram entraves burocráticos e políticos enormes para o reconhecimento definitivo. Atualmente, são 487 terras indígenas homologadas e reservadas no Brasil. Outras 237 estão em diferentes fases do processo de demarcação. A TI Karipuna foi homologada em 1998, há 22 anos. E o fato de que as invasões e a grilagem se espalham por uma terra com esse status mostra a fragilidade institucional em que outras áreas que aguardam a homologação se encontram"> comentário extraído de matéria sobre esse tema do corrdenador de comunicação do Cimi: "Mais de 90 cadastros de terras (CAR) feitos por fazendeiros incidem sobre a TI Karipuna. A alta incidência mostra que os invasores contam com as promessas políticas para conquistar a posse no futuro";

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  6. “Não é possível que segurança jurídica só sirva como argumento para os ruralistas. Os indígenas que cumprem todos os requisitos e fazem um esforço gigantesco que leva décadas, quando pensam estar protegidos, têm que enfrentar processos de grilagem como esse. Se o governo tolera isso numa terra homologada, imagina em outras. Isso não pode ser admissível”, comentário de Danicley de Aguiar, do Greenpeace: "Esra experiência dos Karipuna mostra caminhos possíveis e urgentes para que a perseguição histórica aos indígenas, espalhada em diversos pontos da Amazônia, chegue ao fim. Como provam os fatos, basta articulação e vontade política".



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