O que Franca tem a ver com os Kayapós? Entre os rios Grande, Pardo, Canoas e até nas barrancas do vale do São Francisco (bem na divisa entre São Paulo e Minas Gerais) fazendo hoje 193 anos Franca
(a terra do café, cidade dos calçados, hoje capital do basquete no
interior do Brasil) está aqui numa região onde até por volta de 1700
vivia o povo indígena Kayapó, expulsos pela ocupação dos brancos e dos negros da Serra da Canastra, onde no Desemboque começou o povoamento de todas as cidades daqui do nordeste paulista e do sudoeste mineiro. Por que não um resgate a estes índios que merecem ser pesquisados ganhando também uma reserva nos chapadões onde conviviam em paz com a nossa primeira natureza? Enfim, um presente de índio no aniversário da Franca Kayapó: os povos nativos podem agora ajudar a zelar pelas nossa última natureza
Os Kayapós na formação de Franca é o que precisa ser pesquisado |
É
consenso entre os historiadores que o povoamento de Franca e de toda a
região entre os rios Grande, São Francisco, das Velhas, Pardo, Sapucaí, Canoas,
começou na Serra da Canastra (no Desemboque) por volta de 1700 e pouco
quando foram por ali descobertas jazidas de ouro, de diamantes e de
esmeraldas: chegavam tropas de burro até da Bahia (trazendo sal) e
aventureiros vindos do litoral do Rio ou do sertão de Goiás, o arraial
Nossa Senhora do Desterro do Desemboque chegou então a ter
mais de 1.200 habitantes. São informações inspiradas em alguns
historiadores que já narraram o começo do povoamento da nossa região
entre Franca e a Serra da Canastra, como José Chiachiri Filho ou Sandra
Dantas, da Universidade Federal de Uberlândia e também da Unesp Franca,
como o Chiachiri. A seguir trechos de informações para estimular
pesquisas e também o seu interesse ou amor por esta região entre São
Paulo e Minas Gerais, com muita riqueza hidromineral, uma reseva de água
na natureza do interior do país.Trechos dos autores já citados e também
da cronista mineira Yara Fernandes, do escritor Mário Palmério
(Uberaba), dos jornalistas Jorge Alberto Nabut e Mauro Santayama, amigo
do ator Lima Duarte, nascido e criado no Desemboque e não na Rede Globo.
"Comumente, o processo de ocupação, fixação e exploração
do Sertão da Farinha Podre pode ser compreendido em oito fases. A
primeira delas é aquela que antecede a fixação do homem branco, quando
os habitantes eram os indígenas e os quilombolas, fase que se encerrou
por volta de 1746. A destruição dos quilombos e a expulsão dos Caiapós
marcariam as segunda e terceira fases (1746-1759) com envio de homens
para “domar” os oponentes e instituir um povoamento fixo.
Por esse tempo, há indicações de que, por volta de 1736, foi
fundado um povoamento em um chapadão chamado Tabuleiro, que não
suportou o ataque dos Caiapós, sendo destruído. Algum tempo depois, a
18 km dessa antiga povoação, fundou-se uma nova no lado esquerdo do
Rio das Velhas, era o Desemboque". (Sandra Dantas)
Os chapadões da Canastra têm beleza e riqueza hidromineral |
"O
chapadão termina. Começam os vales, colinas, morros e riachos que
circundam o Desemboque, nosso berço civilizatório. Esta era nossa
primeira vez. Talvez por isso, a sensação de uma aventura no tempo fosse
maior. Ao chegarmos fomos recebidos pelo silêncio. Desemboque parecia
dormir embora meio-dia fosse. (...) Gente havia. As igrejas Nossa
Senhora do Rosário e Nossa Senhora do Desterro insistiam incólumes,
ostentando o peso de dois séculos"...Quando meu irmão, o
jornalista Heitor Átila Fernandes, escreveu essa minicrônica, eu ainda
não atinava muito para o conhecimento histórico e a conservação. De lá
pra cá, se passaram oito anos e, considerando que já se prevê por aí que
a capacidade de informação vai se multiplicar a cada setenta e duas
horas, a partir de agora, creio estar um pouco atrasada e que,
inversamente proporcional à velocidade da informação, é a velocidade da
preservação. Desemboque, como afirmam alguns historiadores, espera pelo
fim, nada mais. (Trecho de texto de Yara Fernandes, Minas Sertão)
"Alguns sertanistas, vindos da região de Pitangui, colaboraram
na criação do arraial Nossa Senhora do Desterro do Desemboque
concomitante à descoberta de jazidas na cabeceira do rio das Velhas,
por volta da década de 1730. Ele, entretanto, só alcançou vigor no
final da década de 1750, com a expulsão dos Caiapós e dos quilombolas
adjacentes. Ergueu-se a igreja ao largo que deu nome ao povoado que
cresceu significativamente alcançando quase 200 fogos; o que perfazia
mais de 1.200 habitantes. Os áureos anos da quarta fase foram seguidos
pelas disputas eclesiásticas e civis para administrar o povoado que ora
pertencia ao bispado de Goiás, ora ao bispado de Mariana. Essas disputas
caracterizariam a quinta e a sexta fases de efetivação da ocupação do
Sertão da Farinha Podre (1761-1764)". (Sandra Dantas).
A terra dos Kayapós não tem mais índios |
Segundo o memorialista Borges Sampaio (1971), o lugar era povoado por índios Caiapós e, posteriormente, negros fugidos. No século XVI, na caça aos quilombos, vieram os Bandeirantes e acabaram descobrindo jazidas de ouro no local. Como a Coroa concentrava seus cuidados em Sabará, Diamantina e Vila Rica e o acesso à região era bastante difícil, o contrabando do valioso metal pelos caminhos ainda pouco vigiados de São Paulo e Goiás foi favorecido. Para o jornalista Jorge Alberto Nabut (Desemboque: documentário histórico e cultural. 1986), os bandeirantes chegaram próximo ao povoado, porém quem o fundou foi o Guarda-Mor Feliciano Cardoso Camargo, que saiu do Arraial do Tamanduá (Itapecerica), rumo à Serra da Canastra, em 1736, na expedição Chapadões.
Hoje poucos sobreviventes no Desemboque onde Franca começou |
José Chiachiri Filho escreveu poesia para crianças sobre a história da Franca
Além de estudos na Unesp e pesquisas nos jornais Comércio da Franca e Diário da Franca José
Chiachiri Filho (para se comunicar com as crianças) contou a história
do nosso povo através de versos (saiu ontem na edição especial do Clubinho, Franca 193 Anos):
são centenas de versos cheios de beleza e de informação escritos com
talento e carinho pelo historiador Chiachiri e hoje, aqui, agora, no
blog da gente, vamos mostrar somente dois deles que têm a ver com o tema
deste nosso post. Confira.
"Bem ao norte de São Paulo
Há muitos anos atrás
Havia matas e rios
Índios e bicho voraz.
Os rios eram o Pardo,
O Grande e o Sapucaí
E Caiapós eram índios
Que habitavam aqui"...
José Chiachiri Filho (historiador e poeta) |
Construções de pé em Desemboque (onde tudo começou) |
Desemboque virou cidade fantasma na Serra da Canastra |
Na placa de entrada do vilarejo, lê-se: Homens
de extrema bravura, desterrados do seu próprio mundo fundaram no Sertão
da Farinha Podre, em 1743, a capela de Nossa Senhora do Desterro, dando
início ao povoado de Desemboque, marco inicial da colonização do Brasil
central. Em seus mais de duzentos anos de existência, a vila pouco
evoluiu e se de lá saíram, 600 arrobas de ouro, como afirma o morador
mais antigo, ou 200, nas palavras do historiador Carlos A. Cerchi, ou
100, de acordo com Jorge Nabut, ou nenhuma, posto que o lugar era apenas
ponto de contrabando do minério para Portugal, de acordo com outras
pesquisas, provavelmente nunca saberemos ao certo. Vale é rever o
passado, atribuindo os devidos méritos a quem os merece por ter se
embrenhado no mato e enfrentado perigos e mistérios, ou por ter
resistido e tentado se defender, após ser tachado, pelo dominador, de
infrator ou selvagem. O mosaico dessas perdas e conquistas revela o
nascimento de núcleos sociais importantes. Revisitar a história desses
nossos lugares é ser envolvido pelas curiosas descobertas sobre o rico
passado que alicerça nosso futuro, é rever nossa alma histórica.
Fontes: Os autores citados neste texto
www.folhaverdenews.com
Franca hoje (a antiga terra dos Kayapós)
|
Últimos Kayapós agora sobrevivem longe daqui (no Pará) |
Fontes: Os autores citados neste texto
www.folhaverdenews.com
"Não é o caso de pagar royalties aos Kayapós e aos descendentes de todos os fundadores de Franca, pelas riquezas conseguidas nestes quase 200 anos da cudade, porém, ao menos um resgate cultural, um reconhecimento da origem do nosso povo": comentário de José Alves Rodrigues, que produz café na região de Sacramento (MG) e diz descender dos primeiros habitantes do Desemboque.
ResponderExcluirAqui nessa seção postaremos em seguida, nas próximas horas, no 193º aniversário de Franca (SP) outras informações sobre os Kayapós por aqui nas barrancas do Rio Grande e Desemboque (Serra da Canastra), onde tudo começou em termos de povoamento das regiões nordeste paulista e sudoeste mineiro.
ResponderExcluirOutras informações, comentários, mensagens, aguarde nossa próxima edição e confira, Você pode por aqui sua mensagem ou envie e-mail para a redação do blog da gente navepad@netsite.com.br
ResponderExcluirPara enviar material como fotos ou vídeos ou sugestão de matéria mande um e-mail direto pro nosso editor padinhafranca603@gmail.com
ResponderExcluir"Já consegui ler o texto e vi citações muito importantes de Mário Palmério, Sandra Dantas, Mauro Santayana, Borges Sampaio, José Chiachiri, Yara fernandes, mapas, dados, enfim, tem fundamento a história de Kayapós na formação no povo de Franca, isso merece ser pesquisado": comentário de Jorge Lopes, de Sacramento em Minas, junto à Serra da Canastra, onde ele ficou na Pousada Sassá Mutema, como ele nos explica.
ResponderExcluir"Além do resgate cultural a esses índios que estão na origem de nosso povo, deveria haver carinho a eles nossos pais e como escreveu aqui o ecologista Padinha neste blog, dar aos Kayapós uma reserva dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra para eles ajudarem a cuidar da nossa últim natureza e voltarem às suas antigas terras, agora para conviver em paz com a gente": comentário também de José Alves Rodrigues (Sacramento).
ResponderExcluir"Muita bonita a cachoeira e o vale do Fundão que vocês mostram no vídeo de ecoturismo aqui: de repente, minha sugestão, a reserva dos últimos Kayapós poderia ser nesse lugar": comentário de Luiz Ribamar, bióloga, em São Luís (Maranhão).
ResponderExcluir"Creio que esta situação histórica de Franca é a mesma de várias cidades paulistas, mineiras, goianas. naianas, matogrossenses, fluminenses,mas enfim, de toda forama vale este enfoque de respeito aos ancestrais imdígenas": comentário de Humberto Gomes, do Rio de Janeiro, exportador.
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