Se premiado no Festival de Berlim o filme Xingu poderá ajudar a luta de Monte Belo dos ecologistas do Brasil e de todo mundo
Quem manda as informações é Myrna Silveira Brandão que está em Berlim, na Alemanha: o cineasta paulista Cao Hamburger está de volta ao palco da Berlinale, desta vez para apresentar Xingu, filme selecionado para a mostra Panorama Principal, a paralela do segundo festival de cinema mais importante do mundo (só perde em importância para Cannes na França). Em 2007 Hamburger já estivera aqui como candidato ao Urso de Ouro com O Ano em que meus pais saíram de férias. Seu novo filme agora acompanha a trajetória dos irmãos Villas-Boas, pioneiros na proteção dos índios no Brasil (passado na década de 1940, segue os irmãos sertanistas Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas, interpretados por Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat, respectivamente) que se juntaram às expedições organizadas pelo governo brasileiro para desbravar o interior do país. Acabaram tendo suas vidas transformadas pelo contato com tribos indígenas e tiveram papel importante na criação do Parque Nacional do Xingu, oficializado em 1961 pelo então Presidente Jânio Quadros, na época algo muito avançado em termos de ecologia ou proteção da cultura nativa dos índios e da natureza do interior do Brasil. "O filme de Cao Hamburger está recebendo apoio entusiasmado de artistas e ecologistas alemães, de toda a Europa e de outros países, mesmo porque tem a ver em seu conteúdo essencial até com a discussão da megausina de Belo Monte que, ao contrário do MP, da OAB, dos cientistas, do movimento socioamnbientalista e do bom senso, o Governo quer construir no Rio Xingu, o que irá desequilibrar o meio ambiente naquela região estratégica da Amazônia", comentou por sua vez daqui di Brasil o editor do blog Folha Verde News, Antônio de Pádua Padinha. Produzido pela O2 de Fernando Meirelles e com roteiro de Elena Soarez, produção orçada em cerca de R$ 14 milhões, Xingu não concorre aos Ursos de Ouro e Prata, mas compete pelos prêmios de audiência, da crítica internacional (Fipresci) e da Confederação Internacional de Cinemas de Arte. "Um prêmio qualquer agora no Festival de Berlim poderá ajudar a pressão nacional e internacional para que o Governo interrompa a construção da megausina de Belo Monte", torce Padinha, assim como todo ecologista. Prêmios, no entanto, não estão nas prioridades de Cao Hamburger, que lembrou que mesmo quando foi selecionado para a mostra oficial, tinha uma expectativa baixa em relação a ser premiado: “Berlim é o segundo melhor festival do mundo, só de ter sido selecionado é muito bom para o filme e para atrajetória dele em todo o mundo, também para as questões ecológicas brasileiras. Se os prêmios vierem serão bem vindos, mas é apenas alguma coisa mais em algo que já é muito bom”, afirmou o diretor que, embora muito feliz de estar aqui, não ficou surpreso com a seleção: “É que não houve muito suspense". Para Hamburger, exibir o filme numa mostra de tal prestígio, por privilegiar filmes com viés social é uma oportunidade para apresentar a outras culturas e nações o trabalho dos brasileiros Villas Boas e a questão indígena: “Eu mesmo nunca havia me aprofundado muito no universo dos índios brasileiros e tampouco na vida dos irmãos Villas Boas, mas assim que tive os primeiros contatos, fiquei totalmente tomado pela riqueza da história. A vida deles é incrível, bela, dramática, emocionante e cheia de aventura”, ressalta destacando como foi gratificante, tanto para ele quanto para a equipe, participar do projeto: “ A cultura e filosofia dos povos que os Villas Boas encontraram, e que estava por aqui antes de Cabral, os encantaram tanto que sua sobrevivência passou a ser a causa da vida deles. Para mim, essa história foi um verdadeiro avanço cultural e pessoal".Além da sessão na Panorama, Xingu também está no Mercado Europeu de Cinema (eventos de negócios que ocorre dentro do festival). A participação faz parte da estratégia de distribuição do filme.
“No momento, o foco é tentar levar o filme para outros festivais. Queremos participar de eventos nos Estados Unidos, provavelmente iremos à Tribeca. Xingu tem estreia nacional prevista para abril, mas esperamos distribuir o filme em vários países, enfim queremos mostrá-lo para o máximo possível de espectadores”, diz Hamburger, que tem uma alta expectativa de retorno com a seleção na Berlinale.
“Berlim é um ótimo começo para a carreira do filme, tanto no exterior quanto para o mercado brasileiro. Isso aqui é a elite do cinema mundial, não poderia estar em melhor lugar”, afirma, revelando que este festival também vai ser uma oportunidade de sentir como questões relacionadas com índios brasileiros são recebidas fora do Brasil, já que também será tema do seu próximo projeto. “Estou trabalhando agora no roteiro de Isolados, em parceria com a documentarista Maíra Buehler. É um filme de ficção que aborda a questão dos grupos indígenas brasileiros que permanecem em isolamento ainda nos dias de hoje”, antecipa informações sobre a sua próxima produção.
Os 22 filmes representam Alemanha, Brasil, Canadá, República Checa, China, Dinamarca, Espanha, EUA, Filipinas, França, Grécia, Inglaterra, Hong Kong, Hungria, Indonésia, Itália, Irlanda, Noruega, Portugal, Rússia, Senegal, Suécia e Suíça. Uma exibição do novo thriller de Steven Soderbergh, "Haywire" - pós-Contágio -, deve complementar o programa da competição. Numa nota oficial, Dieter Kosslick destaca: "Estamos contentes porque a imensa maioria desses filmes são pré-estreias mundiais, que avalizam a importância das Berlinale. São filmes para os tempos de crise que vivemos. Tratam de mudanças, recomeços, retratam a história do ponto de vista de todos que estão sofrendo a turbulência da era atual, onde está também evoluindo a cultura da cidadania e da ecologia".
O júri será presidido por Mike Leigh. A preocupação social, somada ao rigor estético, do diretor inglês de filmes como "Segredos e Mentiras" - vencedor da Palma de Ouro em Cannes - permite esperar que o festival confirme, mais que nunca, sua vocação política. Como todo ano, o Festival de Berlim vai exibir um filme restaurado, o de 2012 é "Outubro", clássico de 1927 do russo Sergei M. Eisenstein.
Existe objetivamente alguma chance de o Brasil ser premiado agora dia 19, segunda-feira em Berlim, onde "Central do Brasil", de Walter Salles, e "Tropa de Elite", de José Padilha, já receberam o prêmio máximo. E o representante português, "Tabu", de Miguel Gomes, tem um crédito de coprodução com o cinema brasileiro. Porém, a expectativa maior - inclusive dos Verdes, de artistas e dos jovens alemães em geral - é que Xingu premiado, venha divulgar a luta contra uma megausina na Amazônia que contraria os interesses dos índios, da natureza e da Nação brasileira, favorecendo apenas alguns grupos de empreendedores, sendo considerado um projeto inviável também economicamente (pelas características de vazão do Rio Xingu) e um erro do PAC. Uma boa performance em Berlim pode pressionar positivamente e ajudar a reverter esta situação no Brasil.
Diretor do filme Xingu, Cao Hamburger com ator da região de Tocantins onde foram feitas as filmagens |
Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat interpretam os irmãos Villas Boas... |
...que foram os heróis da fundação do Parque Nacional do Xingu |
A questão indígena ganha destaque internacional |
Fontes: www.jb.com.br
estadao.com.br
http://folhaverdenews.blogspot.com
Superimportante a chance de divulgação das lutas dos indígenas e dos ecologistas, através do filme "Xingu", baseado em fatos históricos e importantes na vida cultural do Brasil, ainda mais agora com essa questão das megausinas, como Belo Monte, que podem desequilibrar o meio ambiente da Amazônia.
ResponderExcluirEu cheguei a conhecer e manter amizade com Orlando Villas Boas em São Paulo, onde fiz com ele matérias para o Globo Repórter e o Fantástico, através da Blimp Filmes, nos anos 70 e 80, ele depois viria a falecer, hoje é considerado um herói da cidadania e do sertão do Brasil.
ResponderExcluirA fundação do parque nacional e a questão indígena retratadas no filme, que já faz sucesso na Europa e no Festival de Berlim, podendo vir a ser premiado na mostra paralela lá na Alemanha, poderá ajudar o avanço das causas ecológicas brasileiras. Estamos aqui na torcida por este fato, a bem da criação do futuro, futuro da Nação, do planeta também e da própria vida.
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