CUPULATE JÁ É ATUALMENTE UM SINÔNIMO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA

Produto do Cupuaçu ele é primo do Chocolate do Cacau e parente do Açaí o Cupulate mostra a riqueza natural e o potencial amazônico que poderá ajudar a floresta e a economia brasileira segundo pesquisadores

 

Cupuaçu, maravilha da Amazônia

A fruta do mato hoje chega em forma de Chocolate e o Cupulate já começa a conquistar o mercado de produtos naturais e saudáveis

O Cupulate já é consumido e discutido também em Londres, revela Mônica Vasconcelos, repórter da BBC na Europa, a  barra se quebra com facilidade entre os dedos, sem aquele estalo que ouvimos quando partimos um Chocolate. Na boca, os pedaços se dissolvem mais rapidamente, e sua textura é incrivelmente aveludada. A aparência, o aroma e o sabor lembram famoso produto do Cacau, mas como leves notas cítricas, amendoadas e amadeiradas tem um gosto distinto, indefinível, confundem o paladar e caracterizam o Cupulate, de acordo também com dois fabricantes brasileiros desta barra de Chocolate do Amazonas. O Cupulate, pode ser assemelhado ao Chocolate mas não contém nada tanto a ver com este doce de sucesso mundial, ele é feito com a semente da fruta amazônica Cupuaçu (Theobroma grandiflorum, na nomenclatura científica), que pertence ao mesmo gênero que o Cacau (Theobroma cacao), demonstrando mais uma vez a biodiversidade e riqueza ou potencial da floresta da Amazônia. (Uma dica: o Cupulate não deve ser confundido com bombons feitos com uma mistura de Cacau e Cupuaçu vendidos há algumas décadas em supermercados pelo Brasil afora, agora se trata de um produto original). Hoje se precisa destacar que o legítimo Cupulate é um produto que brasileiros e brasileiras ainda desconhecem nem consomem, porém, na opinião de muitos pesquisadores, pode cumprir um papel importante no desenvolvimento da floresta e contribuir para a economia ecológica do Brasil. Para isso, dizem, precisa vencer um desafio: encontrar uma identidade própria, distante do primo famoso e bem sucedido. É também, cá entre nós, mais um legado da luta de Chico Mendes pelas florestas e pelo extrativismo no bioma.   

 De várias forma o Cupuaçu já é consumido pelos nativos da...

...agora como uma espécie nova de Chocolate...

...tende a ser um produto natural de sucesso

                     

Duas marcas de Cupulate se destacam hoje no Brasil. A amazônica De Mendes, que desenvolveu seu Cupulate a partir de uma receita tradicional usada por mulheres de uma comunidade agroextrativista do Pará. E baiana Amma, que foi pioneira e comercializa seu Cupulate orgânico há quase uma década.

 Chico Mendes defensor da ecologia e do extrativismo...

...é pioneiro do futuro sustentável mas hoje em dia desprezado por uns e outros sem visão ambientalista

Ambas empresas entraram no mercado oferecendo, inicialmente, chocolates artesanais feitos com cacau fino, de altíssima qualidade. O dono da Amma, Diego Badaró, de 41 anos, pertence à quinta geração de uma família de fazendeiros de cacau que, em 1989, tiveram suas lavouras devastadas por um fungo. Ele recuperou a saúde das plantações seguindo as práticas do suíço Ernst Gotsch, especialista em regeneração de terras degradadas. E começou a vender sua linha de chocolates finos. Um dia, se encantou com o Cupuaçu. "Fui visitar uma fazenda de Cupuaçu, vi os grãos e fiquei muito interessado, mais do que curioso", contou Badaró em entrevista à BBC News Brasil. A árvore do Cupuaçu, o cupuaçuzeiro, pode chegar a 15 metros de altura. Seu fruto pode alcançar 25 cm de comprimento e entre 10 e 13 cm de diâmetro. Rico em vitamina C, vitaminas do complexo B e sais minerais, o Cupuaçu é muito apreciado pelos nativos amazônicos, que o consomem nas formas mais variadas, como sucos, cremes, sorvetes, licores e geleias. Sua popularidade fora da Amazônia, no entanto, contrasta muito com a de duas outras frutas nativas da floresta - o Cacau, estrela consagrada, e o Açaí (Euterpe oleracea Mart), em ascensão meteórica. Badaró conta que resolveu fazer uma experiência: usar as sementes da fruta para criar um alimento análogo ao chocolate, pesquisando várias formas e formatos.

 O Cacau base do Chocolate tradicional e também...

...o crescente sucesso do Açaí nas cidades...

...são duas realidades importantes na economia e na ecologia, que agora terá o reforço do Cupulate, o chocolate de Cupuaçu

CRÉDITO,MATEUS MENDES

Diogo Badaró conta como chegou à fórmula do Cupulate: "Resolvi testar novamente, já com fábrica em Salvador. E percebi que a fermentação do Cupuaçu era mais longa. É o mesmo processo, só que leva mais tempo do que o do Cacau". Uma barra de Cupulate não deve deixar ninguém acordado à noite. Ele não contém cafeína nem teobromina, estimulantes naturais presentes no Chocolate. E sua textura cremosa se deve à composição natural da semente da fruta. Ele explica que "o grão do Cacau tem 50% de sólidos e 50% de óleo. O do Cupuaçu é 80% óleo, tem poucos sólidos, então dá essa textura diferente e saborosa". Os Cupulates fabricados por Amma e da De Mendes são do tipo meio amargo, ou seja, contêm somente semente de cupuaçu e açúcar mascavo, mantendo a integridade da cultura do Amazonas e um índice 100% de alimento saudável, quase tanto como o povo consome de variadas formas o Cupuaçu nas florestas. 

 Cupuaçu, fruta do mato que começa a conquistar as cidades

 

Nascido e criado na Amazônia, o macapaense César de Mendes, de 59 anos, conhecia bem o Cupuaçu e já tinha provado Cupulate, mas conta que não via muita graça naquilo. Ele ressalta, inclusive, que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu e patenteou o Cupulate na década de 1980. "Mas esse agora desenvolvido existe há dois anos. Eu não coloquei pra rodar antes porque não estava satisfeito com o resultado. Tinha provado o da Embrapa, mas eu não gostava daquele resultado, agora sim". Sendo um especialista em engenharia de alimentos, Mendes trabalhou como consultor no ramo do Cacau antes de abrir sua própria fábrica. A De Mendes faz Chocolates à base do Cacau nativo da Amazônia, colhido por comunidades da floresta em regiões, muitas vezes, isoladas. Isso talvez explique a visão crítica que César de Mendes tinha sobre o Cupulate. Para ele, era como se faltasse uma personalidade própria a esse primo do Chocolate: "Você coloca um produto como esse no mercado e as pessoas tendem a comparar com o Chocolate e então, não tinha estímulo nenhum para fazer, mas...", Foi uma xícara de uma bebida saborosa tomada à sombra de uma árvore nas imediações do rio Tapajós, no Pará, que fez Mendes mudar de opinião. Ele conta que provou a bebida quando visitava a associação de mulheres agroextrativistas Amabela, no município de Belterra. "Era Cupulate", diz que ficou encantado: "Tomei numa xícara e gostei, como nunca tinha gostado de nada antes". Mendes conta que perguntou às mulheres se elas concordaram em compartilhar com ele o processo de fabricação, um conhecimento transmitido entre gerações na comunidade. Com a permissão do grupo, testou a receita em casa. "Gostei muito. Pensei, agora está na hora de lançar finalmente uma barra de Cupulate".  

 As diferenças e as similaridades entre o Cupuaçu e...

...o Cacau ampliam a magia do Cupulate cada vez mais

ÉDITO,FELIPE SANTOS DA ROSA/EMBRAPA

O Cupuaçu é visto por grupo de cientistas brasileiros como um produto com grande potencial de promover o desenvolvimento econômico da floresta, sustentável, bom para a economia e a ecologia, valorizando a cultura e a natureza da Amazônia. Os pesquisadores dizem que o Cupulate da De Mendes tem um sabor único. Tão gostoso que, depois de prová-lo, muitos clientes desistem de comprar Chocolate e encomendam apenas Cupulate. 

 Mais uma esperança para a ecologia e para a economia do Amazonas, o Cupulate avança no país e no mundo

"Pra mim, é fácil porque quem nasci na Amazônia e me acostumei desde sempre com esse gosto. Mas, quando vou falar com uma pessoa de fora daqui, tenho que dar referências. Por exemplo, quando você mastiga, sente um perfume muito característico do Cupuaçu do mato. E, no sabor, percebe o azedinho, a lembrança da fruta, da polpa da fruta que o povo lá adora", argumenta Cesar de Mendes. Quem ficou com vontade vai ter um certo trabalho para provar. Os Cupulates da De Mendes e da Amma são vendidos principalmente nos sites das marcas. Também podem ser encontrados em algumas lojas de produtos orgânicos e em supermercados independentes, mas é inegável que a distribuição ainda pode e precisa ser melhor. Na década entre janeiro de 2011 e dezembro de 2021, por exemplo, as exportações de Açaí pelo estado do Pará (responsável por 94% do total exportado pelo Brasil) cresceram quase 150 vezes (14.380%), segundo dados da Associação Brasileira de Produtores Exportadores de Frutas e Derivados, Abrafrutas. Ainda segundo a entidade, a quantidade exportada subiu de 41 toneladas em 2011 para 5.937 toneladas em 2021. Em 2020, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país produziu 1.478.168 toneladas de Açaí, com rendimento à economia brasileira de R$ 4,75 bilhões. Dados do instituto recentes e disponíveis mostram que, comparando, a produção de Cupuaçu foi de 21.240 toneladas, com um faturamento de R$ 54,82 milhões. Além disso, os pesquisadores enfatizam que os números variam muito de ano para ano. Ainda assim, a diferença no desempenho das duas frutas ainda é imensa. Atualmente, para os pesquisadores o Cupulate precisa vencer um desafio: encontrar sua identidade, longe do primo Cacau famoso e bem sucedido como o Chocolate. Será que o Cupulate poderia mudar o destino do Cupuaçu para fazer dele mais uma estrela da Amazônia? Quase uma década após ter lançado o seu Cupulate, Diego Badaró, da Amma, diz não ter dúvidas sobre a viabilidade do produto. "Já está há nove anos no mercado, O Cupulate já provou o seu valor fora do comum".  

Todos os seres vivos, as águas e o equilíbrio ambiental da Amazônia podem agora ter o Cupulate como um aliado 

Na década de 2000, o Cupuaçu esteve no centro de uma batalha judicial internacional envolvendo a empresa japonesa Asahi Foods e o governo do Brasil. Em um caso clássico de biopirataria, a empresa japonesa patenteou as marcas "Cupuaçu" e "Cupulate". O caso resultou na campanha "O cupuaçu é nosso", e as patentes foram revogadas. Mas o sucesso do legítimo Cupulate no mercado não interessa apenas a empresários. O Cupuaçu é visto por um grupo de cientistas brasileiros como um produto com grande potencial de promover o desenvolvimento econômico da Amazônia para que a floresta em pé gere riquezas para o Brasil. O caminho para isso, dizem, seria aliar os saberes da floresta (como é o caso, por exemplo, da receita de Cupulate das mulheres da Amabela) a tecnologias de ponta (para permitir que os próprios produtores façam o beneficiamento da fruta, agregando valor ao produto) e dando suporte a tudo isso com políticas públicas que favoreçam o extrativismo, as comunidades nativas e a recuperação da ecologia do país, hoje em risco. César de Mendes conta que foi convidado pelo climatologista Carlos Nobre, líder do grupo de cientistas, a colaborar com esse plano, batizado de Amazônia 4.0. Ele explica que foi chamado por ser um especialista em Cacau: "Conheço a cadeia, conheço as comunidades, produzo. Conheço a floresta e por isso me chamaram". Mas o Cupulate teria o mesmo potencial comercial que o Chocolate à base de Cacau? Vale argumentar que o Chocolate é um produto que tem uma cultura de consumo em massa de cem anos. Quem conhece o potencial do Cupulate responde que cada vez mais ele será descoberto no mundo dos alimentos naturais e saudáveis, uma nova alternativa amazônica extraordinária. 

 Cupulate, a magia do Amazonas na alimentação natural e saudável de hoje em dia no Brasil e no planeta

Fontes: BBC -  Embrapa - folhaverdenews.blogspot.com