Ibis Pereira deu entrevista à Agência Publica e
ao jornalista José Cícero da Silva: aqui no blog da ecologia, da cidadania e da
não violência resumimos algumas das informações e comentários que ele faz
sobre a crise de segurança no Rio de Janeiro, sendo que para este especialista
os direitos humanos são fundamentais para o fim de violência que, com a sua
experiência de 33 anos na PM, ele define como uma barbárie, mostra os problemas
e indica soluções, confira a seguir algumas das principais declarações do
humanista em que se transformou este excoronel da Polícia Militar, um documento
de grande valor para uma solução sustentável desta grande crise que não é só no
Rio mas em diferentes dimensões está em todos os lugares do Brasil e da própria
vida na atualidade
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A vida dos seres humanos deveria ser a prioridade
argumenta em resumo Ibis
Pereira
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“É preciso reduzir homicídios para o clima de
civilidade voltar e a barbárie acabar", diz Ibis Pereira com a experiência
de 33 anos na Polícia Militar que somada aos seus estudos de Direito e
Filosofia com mestrado em História acabando por lhe dar novas convicções. Entre
elas, por exemplo, a de que a melhor maneira de proteger o policial é fazendo a
polícia matar menos. “A vida dos seres humanos não pode ser tratada como um
efeito colateral mas como o principal de tudo". A seguir trechos de
algumas de suas declarações que dão uma luz diferente à intervenção acontecendo
agora no Rio de Janeiro e abastecem a luta pela cidadania, em busca da criação
duma realidade mais humana. Confira a seguir, OK?
“O nosso problema é justamente que aquilo que
poderia nos salvar é o que a gente repudia. A gente repudia exatamente o
remédio. Por isso que a gente não sai da UTI, porque estamos recusando o
remédio, que é mais direitos humanos e não mais repressão".
"Nos últimos 40 anos, o Rio de Janeiro tem
vivido conflitos muito dolorosos em função da dinâmica como se organizou o
crime para a venda de drogas. Essa organização se deu a partir da disputa
territorial de guerras de facções quando o Rio e o Brasil entraram na lógica do
tráfico internacional de drogas, na virada dos anos 1970 para os 1980, depois
do boom da cocaína. Essa lógica de mercado ganhou no Rio uma “coloração”
diferente de outros estados em função da geografia da cidade. A periferia e os
bairros mais nobres, com maior IDH, estão próximos. Por isso, desde que a se
abraçou a guerra às drogas como estratégia para o enfrentamento desta questão,
há 40 anos, é que o Rio vive de fato um conflito muito doloroso, que tem
vitimado milhares de pessoas. Nesse contexto, também as vítimas de balas
perdidas. Já em 2012 o Programa de Polícia Pacificadora (UPPs) começou
então a apresentar os primeiros sinais de debilidade e nada foi feito para
realmente solucionar a questão. Naquele ano a primeira policial morre em
serviço, numa UPP, em Nova Brasília, no Complexo do Alemão, região ocupada em
2010 naquelas cenas de espetáculo belicista que o Brasil deu ao mundo. Desde
então, o programa vem apresentando um colapso cada vez mais crescente e há
pouco mais de um ano esse cenário se agudizou. Realmente há um colapso na
política pública de segurança do Rio, se é que nós temos isso. Se é que nós
podemos chamar o Programa de Pacificação de uma política pública de segurança é
demais".
"O primeiro dos grandes problemas da segurança
pública no país deveria ser o de reduzir indicadores criminais, a partir de
políticas públicas, com ações articuladas em nível federal, estadual e municipal,
elaborando ações ou atribuições para cada um desses atores e concentrar tudo
num grande pacote de ações, com indicadores que possam verificar a efetividade
dessas ações. Isso é política pública, e não existe no Brasil. Aqui, a cada
nove minutos um brasileiro é vítima de morte violenta intencional e não existe
nenhum programa preocupado em reduzir esses indicadores".
"O segundo problema é o nosso modelo de
polícia e de justiça criminal. Primeiro, nós não temos um sistema de justiça
criminal; afinal, as agências não trabalham em harmonia, não acertam as suas
ações. Temos polícias nos estados, que constituem um modelo, que é uma invenção
brasileira que, definitivamente, não funciona. Temos uma polícia militar, que
está presente nas ruas, que patrulha e não investiga absolutamente nada, e isso
passa a ser determinante para entender o fracasso das UPPs. Além disso, essa
polícia que patrulha e não investiga se espelha no exército, um espelhamento
que é absolutamente nocivo para atividade policial. Mesmo assim, em 2008 foi
construído um programa que coloca nas favelas essa polícia, num espaço onde a
droga é vendida – e vai continuar a ser vendida, porque é uma demanda. Você
coloca a PM lá e isso não muda a política de drogas, que continua sendo a
guerra, porque é a única política que o Brasil tem. Apesar de algumas ações
louváveis, a grande estratégia tem sido a guerra e o enfrentamento bélico. Isso
é um cenário desenhado para a tragédia. Não pode dar certo".
"A gente tem todo esse cenário de fundo, da realidade
brasileira, que precisa amadurecer para a construção de políticas públicas,
urgente é repensar a nossa política de drogas e melhorar o controle do
armamento e da munição que circula no país. Então você junta isso tudo e se
entende por que não vem dando certo. O que a gente não pode é continuar
admitindo, da maneira como fazemos, que as vidas humanas no Brasil continuem a
ser tão desperdiçadas da maneira que são e que isso seja tratado como um efeito
colateral, como se costuma dizer, da maneira mais despudorada e equivocada do
mundo. A vida dos seres humanos não pode ser tratada como um efeito colateral,
isso não cabe num estado democrático de direito".
"A crise tem sido uma desculpa para não fazer
o que é possível fazer. Há uma série de coisas que você não conseguiria fazer
com crise econômica e financeira, e há muita coisa que pode ser feita, que não
depende de crise. A modernização dos marcos institucionais da polícia, dos
marcos legais, que balizam as ações da polícia, não depende da crise econômica
e financeira. Depende de alteração nas leis, nos decretos, nas normas que
orientam o trabalho da polícia, e isso não tem nada a ver com crise financeira.
Isso depende de vontade política, de decisão, de visão. O estatuto que organiza
a Polícia Militar do Rio é de 1981, anterior à Constituição. O regulamento
disciplinar que rege a PM é de 1983, também anterior à Constituição. As
instituições policiais precisam se organizar. ou se atualizar. No Brasil, o
decreto que organiza a polícia é de 1969. Para mexer nisso, não tem nada a ver
com a crise econômica. Depende de ideia, depende de projeto, depende de
encaminhamento e discussão pelo poder legislativo. A modernização das
instituições e também as policiais é fundamental para que elas ganhem
agilidade, eficiência e eficácia no enfrentamento do crime. Isso não tem
relação com crise financeira, mas tem relação com uma crise política".
"Para
se enfrentar o crime, é preciso três coisas: decisão política, engajamento da
sociedade e de um projeto com este objetivo. Se não tem isso, os indicadores
decolam, como está acontecendo no Brasil e, particularmente, no Rio. Se tem
crise política, não tem decisão política; se não tem decisão política, a gente
fica igual a um navio à deriva com um rombo no casco".
"De acordo com os dados do Instituto de
Segurança Pública (ISP), de janeiro até maio, 480 pessoas foram mortas
decorrentes de intervenção da polícia. Esse tem sido um problema gravíssimo. A
grande questão hoje é reduzir taxas de homicídio. Num país em que essas taxas
são bem elevadas, quando se mata muito, se estupra muito, se furta muito, se
rouba muito, o homicídio puxa os outros indicadores, e esse clima de barbárie
começa a ganhar as ruas, a cabeça, o espírito das pessoas. E elas começam a se
tornar belicosas, violentas. Então é preciso reduzir homicídios para o clima de
civilidade voltar e a barbárie acabar. E o primeiro movimento para isso é
reduzir a letalidade da polícia, porque a polícia mata muito e resolve
pouco".
"A investigação dos crimes que envolvem as
mortes que decorrem de intervenção policial é fundamental para reduzir a
letalidade e proteger o próprio policial. Uma polícia que vitimiza muito
durante sua ação é uma polícia muito vitimada também. São duas faces da mesma
moeda: uma polícia que mata muito morre muito. É a vendeta. É a vingança. A
melhor maneira de proteger o policial é fazendo com que a polícia mate menos.
Além da doença mental, do sofrimento psíquico, pelos quais os agentes policiais
passam, por estarem mergulhados neste ambiente de morte, de guerra, de
vitimização, de violência".
"Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos a
taxa de elucidação de homicídios gira em torno de 65%; na Inglaterra, é de 90%;
na França, é mais de 80%. De acordo com o Fórum de Segurança Pública, a média
brasileira é de 8%. Ou seja, num país onde 60 mil brasileiros são mortos por
ano, apenas 8% dos casos são elucidados. E o que estou chamando de elucidação?
Apresentar para Justiça o suspeito do crime, com indícios suficientes de
autoria, para que a Justiça possa fazer o julgamento. Um plano de redução de
homicídios tem que passar pela melhoria das taxas de elucidação de inquérito.
Isso significa enfim investimento na polícia científica. O local do crime fala,
mas, para que o local do crime fale, precisa de uma polícia científica com
recursos tecnológicos e humanos. No Brasil, a prova testemunhal ainda é rainha
das provas, o que é mais um problema".
(Confira na seção de comentários aqui neste blog mais declarações do exCoronel da PM Íbis
Pereira que se formou em Direito e em Filosofia, tendo feito mestrado em
História e hoje além de um especialista virou um crítico da violência da
realidade no Rio e no Brasi)
Fontes: apublica.org
folhaverdenews.blogspot.com
A gente aqui, através da informação e do debate, neste blog em busca da ecologia e da cidadania para criar o futuro, a gente agradece a Agência Pública (agência de jornalismo investigativo) e ao repórter José Cícero da Silva por este material, a entrevista com o exCoronel da PM Ibis Pereira que, com certeza, é um conteúdo que avança soluções sustentáveis para toda essa crise e até mesmo também a não violência na vida.
ResponderExcluir"Fala-se muito em inteligência policial, mas na verdade, isso fica muito no campo retórico. Basta ver o que fica de concreto do produto dessas polícias: baixas taxas de elucidação e uma grande taxa de vitimização produzidas pelas polícias. A gente está engatinhando tanto que ainda temos dificuldade com dados. Quando se pergunta ao ISP, por exemplo, sobre a quantidade de inquéritos concluídos, o resultado que ele dá é a quantidade de inquéritos relatados. Mas a questão é: dos inquéritos relatados, quantos efetivamente são aproveitados pelo Ministério Público? Porque quem denuncia não é o delegado de polícia. O trabalho do delegado de polícia vai para um promotor, que é o dono da ação penal, o fiscal da lei. É ele quem promove a ação penal e vai levar este indiciado à presença do juiz, para que ele seja processado", argumenta também Ibis Pereira.
ResponderExcluir"Não vejo outro caminho que não seja a redução da taxa de homicídio. Das 50 cidades mais violentas do mundo, 46 estão na América Latina e 32 no Brasil. Isso tem a ver com o nosso passado colonial escravocrata. Quem está morrendo é negro, pobre e morador de favela. É uma violência ancestral que o nosso presente replica": comentário também de Ibis Pereira.
ResponderExcluirA seguir postaremos aqui nesta seção mais informações para este debate, você pode participar, coloque aqui sua opinião ou envie uma mensagem pro e-mail da redação deste nosso blog, mande para navepad@netsite.com.br
ResponderExcluirVídeos, fotos, material de informação em geral você pode também enviar diretamente pro e-mail do nosso editor de conteúdo deste blog de ecologia e de cidadania, mande para padinhafranca603@gmail.com
ResponderExcluir"Uma postagem de muito valor para um debate que a grande mídia deveria estar fazendo assim abertamente, parabéns a este cidadão, que se mostra um ser humano avançado por suas posições críticas e de bom senso": comentário de Fernanda Morais dos Santos, de São Paulo, empresária e formada em economia.
ResponderExcluir“A gente está fazendo guerra há 40 anos e se acostumou com isso mas precisamos entender que o estado democrático de direito não faz guerra contra a sua população”: comentário do excoronel Ibis Pereira durante a entrevista a José Cícero da Silva pela Agência Pública.
ResponderExcluir"As principais vítimas da violência policial tem sido jovens negros e pobres da periferia, não só do Rio, segundo avaliou a Anistia Internacional que afirmou ainda, policiais brasileiros ainda usam a mesma estratégia violenta de abordagem da época ditatorial": comentário de Dulce Naum da Silva Mattos, de Belo Horizonte e da UFMG.
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