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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

USANDO A ARMA DA CULTURA OU DA NÃO VIOLÊNCIA GAROTOS INDÍGENAS ALERTAM SOBRE GENOCÍDIO CONTRA ÍNDIOS E CANTAM A FAVOR DE NOVA REALIDADE NO PAÍS

MC's Guaranis: garotos de reserva indígena em Mato Grosso do Sul (uma das regiões com maior violência contra índios) usam o Hip Hop como forma de expressão e de luta levando adiante o primeiro grupo de rap nativo no Brasil a conquistar a grande mídia agora


Nasce luta não violenta diante da violência contra os índios


"Os olhos do índio Bruno Verón dizem que algo na aldeia não vai bem. Junto a três outros jovens da mesma tribo, ele tranca o sorriso, amarra o Nike e mira o alvo: o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli. André está sentado na primeira fileira ao lado do prefeito de Dourados, Murilo Zauith, e de vereadores que inauguram com festa e discursos a Vila Olímpica Indígena da região, um espaço esportivo com campo de futebol e quadras de basquete. Bruno terá sua chance logo depois das meninas dançarinas da etnia Terena. Assim que o locutor anuncia a entrada de seu grupo de rap, o Brô MC"s, o índio procura pelo governador na plateia e joga a lança cult: "Esta vai pra vocês que não conhecem nossa realidade, que não sabem dos nossos dilemas. Aldeia unida, mostra a cara" (trecho de matéria da Rádio Coração (Mato Grosso). 



Goldemberg Fonseca/Divulgação
É nóis. Clemerson (E), Charles, Bruno e Kelvin formam o Brô MC’s
Direto da aldeia Bro MCs Clemerson, Charles, Bruno e Kelvin garotos que amam o Hip Hop e a vida  como muitos outros garotos por aí (índios sim mas brasileiros como você)
Os garotos matogrossenses cantam bem, em uma mistura de Guarani e Português, no show no complexo esportivo que custou R$ 1,6 milhão. A casa de cada um deles não têm nem quatro cômodos direito,  dividida entre eles e muitos familiares. Bruno conta que seu avô morreu espancado supostamente por capangas de fazendeiros que queriam os indígenas longe dali. O irmão mais velho escapou por pouco, mas leva um projétil alojado na perna. Na casa ou oca dele a mandioca brota no quintal. Banho, só de caneca. A geladeira está quebrada. A TV funciona. O Playstation, também. E sempre, a qualquer hora, os celulares dos garotos tocam Eminem, Snoop Doggy, Racionais, MV Bill e Fase Terminal como a maioria dos smartphones de quaisquer garotos brasileiros hoje em dia, muitos dos adolescentes indígenas cantam as músicas da tribo e Hip Hop.


Os 4 garotos da floresta estão coquistando as cidades


O Hip Hop chegou às reservas indígenas de Mato Grosso do Sul como se fossem ali as quebradas do Capão Redondo na Grande São Paulo. Para os filhos adolescentes das 15 mil famílias das etnias Terena, Guarani-Kaiová e Guarani-Nhandéva, era como se cada verso tivesse sido criado para suas próprias vidas. Se Mano Brown fala de conflitos entre pobres e policiais, eles têm pais e avôs retirados de suas terras a tiros pelo homem branco. Se MV Bill cita o tráfico de drogas, seus amigos estão cada vez mais iludidos pelo crack. "É uma das regiões mais problemáticas do Brasil", diz o antropólogo especialista em estudar o grupo guarani há 40 anos, Rubem Thomaz de Almeida. Ele cita que muitos jovens assim como adultos de várias etnias, alé de se preocuparem com as origens, tentam escapar vivos da violência, que ralatoria da ONU denuncia como um genocídio ali na frointeira do agronegócio em nosso país ruralista, onde os índios são tirados do caminho do mesmo modo como se desmata a floresta.


A música para lutar contra a violência da realidade



O ritmo duro e a batida da percussão poderia ser também parte dum ritual Kayowá. "Eu não pensava nessas coisas antes do Rap. Ele que me fez ver e expressar nossa situação", diz Bruno Verón, um dos garotos do grupo de Hip Hop nativo. "É nossa chance de sermos ouvidos fora da aldeia". 


Brô MC"s são garotos usando a linguagem jovem hoje



Clemerson, Charles, Bruno e Kelvin: apesar dos nomes, todos são legítimos Guarani-Kayowás. Há muitos jovens registrados com "nomes brancos" na aldeia, por necessidade de conviver na cidade, frequentar escola, Os garotos da tribo são também do rock and roll. Vocês conhecem os Beatles? - "Sim, o John Lennon mora logo ali", fala Charles, apontando para uma taba na vizinhança. Ele ri, mas é sério. John Lennon, Elton John, Michael Jackson fazem parte da vida desta rapaziada de 16, 17 e 18 anos que também curtem Rap. Os meninos andam pela reserva com camisetas do Eminem e dos Racionais MC"s, tênis de basquete, bonés coloridos e celulares tocando sons digitais. Quando se encontram, tocam as mãos abertas e depois fechadas como faz qualquer garoto na cidade. Muitos aprendem a dançar break em oficinas ministradas pela Cufa (Central Única de Favelas). Em uma delas, Higor Marcelo, cantor do grupo Fase Terminal, conheceu os garotos e passou a produzi-los. "Fiquei maravilhado quando ouvi", diz. Higor fez um CD demo dos garotos e agora fechou a produção para este fim do ano de um primeiro disco do Brô MC"s que já estão firmes na parada da música jovem. 


Brô MC"s  estão também na rádio indígena Yandé


Aqui, a grente abre um parêntese para citar um outro trabalho de cultura indígena também contemporâneo, música e vídeo dos índios Kayapós, produção da cantora Marlui Miranda, Kworo Kongo, um videoclip que mostramos aqui na Folha Verde News e que causou uma boa repercussão. É uma tendência positiva. Os indígenas usarem a via cultural para irem à luta pela sobrevivência dos povos da floresta.

 
Videoclip Kworo Kongo dos Kayapós, produzido por Marlui Miranda


 
No caso do Bro MCs, um de seus raps se chama Tupã e mostra que os garotos índios já têm sua linguagem e seu próprio discurso. "Aldeia, a vida mais parece uma teia / que te prende e te isola, não quero tua esmola / nem a sua dó, minha terra não é pó / meu ouro é o barro onde piso, onde planto / e que suja seu sapato quando vem na reserva fazer turismo / pesquisar e tentar entender o porquê do suicídio"...


Brô MC"s cantam "meu ouro é o barro onde píso"...


É alto o índice de suicídio na tribo, sempre por enforcamento, atingiu o ápice em 2009, quando foram registradas uma morte a cada dois dias. "Até que uma criança de 8 anos se matou. Aí paramos para discutir", diz Nestor Verón, pai de um dos garotos rappers. As explicações não fecham uma lógica. O enforcamento seria um simbolismo. O índio quer se expressar e não pode, então se enforca. Ou estaria passando por uma espécie de choque cultural na cidade ou espiritual com a chegada de grupos religiosos cristãos. Nada é certo. "A alma de um suicida, acreditam os índios Kayowás, não sai pela boca, como deveria, mas pelo ânus. E então é incorporada por outro indivíduo que também irá se enforcar", diz o antropólogo Rubem Almeida que fez um estudo sobre este drama, que é também socioambiental. 



 Protesto internacional pela violência a índios do Brasil


O fenômeno pode aguçar pesquisadores, mas o poder público parece longe de abraçá-lo. Ao fim do show do Brô MC"s na inauguração da Vila Olímpica Indígena, o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, é o único que não aplaude. "Não gostei, porque isso é música estrangeira. E eu sou nacionalista". Ah sim, nacionalista, ruralista, o avesso da causa indígena, que fala em paz e faz média mas está em outra sintonia, digamos assim.

Charges radicalizam a luta do Brô MC"s e dos índios hoje


Fontes: Agência Estado
             www.correiobraziliense.com.br
             www.radiocoraçao.org
             www.folhaverdenews.com 

7 comentários:

  1. Logo mais, comentários por aqui com mais informações tanto sobre o grupo Brô MC"s como sobre toda a questão dos índios no Brasil, aguarde nossa edição e venha aqui conferir.

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  2. Você pode por direto aqui seu comentário ou se precisar e/ou preferir envie a sua mensagem para o e-mail da redação deste blog de ecologia e de cidadania navepad@netsite.com.br

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  3. Vídeos, fotos, material de informação, sugestão de pautas você pode enviar também para o e-mail do nosso editor de conteúdo aqui deste blog que tem feito várias postagens sobre a questão dos índios no país, mande para padinhafranca603@gmail.com

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  4. "Muito expressiva a música de protesto dos Brô MC"s e essa situação toda de violencia, suicídios de jovens e até genocídio precisa mesmo acabar, com nova realidade de respeito aos povos nativos do Brasil": comentário de Gaspar Wartzere, Xavante e professor, historiador pela UFMT, que mora na aldeia Namunkurá.

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  5. "Em recente reunião na OEA foram apresentadas denúncias de violências contra os índios e a dificuldade de demarcação de terras, principalmente no Mato Grosso do Sul, onde indígenas da etnia Guarani-Kayowá (que é o caso destes jovens di Hip Hop) reclamam dos constantes ataques de milícias armadas às suas comunidades. A disputa por terras indígenas tem sido um dos principais fatores para a violência no campo, no Brasil. Os garotos lutam contra isso, com a arma cultural, o que é exemplar": comentário de Ary Soares, do Rio de Janeiro, economista e empresário.

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  6. “Os povos indígenas estão sendo atacados sistematicamente e sofrem intenso processo de violências e violações no Brasil. O Poder Executivo tem responsabilidade direta nesse processo, pois não dá seguimento regular aos procedimentos de demarcação das terras indígenas, é omisso quanto à proteção das terras demarcadas e negligencia quanto ao atendimento à saúde dos povos. A impunidade retroalimenta a violência contra os povos”: comentário do secretário executivo do Cimi (conselho indigenista missionário da Igreja Católica) Cleber Busato.

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  7. "O relatório Violência Contra os Povos Indígenas, publicado pelo Cimi, tem registrado desde 2014, 138 assassinatos e 135 casos de suicídios. No Mato Grosso do Sul, foram 41 assassinatos e 48 suicídios. Esta situação explica a música dramática dos Brô MC"s": comentário de Silvana Moraes, de Cuiabá (Mato Grosso) em emissão de rádio da EBC, Agência Brasil.

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