Aventura de um perseguido durante governo ditatorial no país luta agora com jovens para mudar e avançar o país e a vida, fazendo blog de ecologia, de cidadania e um documentário da atualidade
A Ditadura Militar entre 1964 e 1986 já se manifestava antes
e continuou após a data oficial em que o país começou a ser redemocratizado:
antes e depois destas datas, a população brasileira e a própria Nação foram
prejudicadas por grandes interesses políticos, econômicos, multinacionais.
Neste contexto, aqueles que desde então se opuseram a esta situação, foram
perseguidos, presos, torturados, calados e até mortos, entre estes opositores
ao governo ditatorial uns defendiam a liberdade ou a chamada democracia, outros
uma revolução comunista ou socialista no Brasil, pela luta armada ou pacífica,
nesta multidão de rebeldes havia desde velhos líderes de esquerda até jovens e
adolescentes ainda despertando para a cidadania, todos em busca da justiça social
e do interesse nacional. Cerca de 3 mil brasileiros e brasileiras foram mortos
pelas forças de repressão (policiais, militares, CIA, apoio financeiro de
empresas), alguns deles, desaparecidos, por volta de 50 e 100 mil pessoas foram
presos ou detidos, entre estes, pelo menos uns 30 mil foram também vítimas de
tortura e de alguma forma de perseguição política. Estes números ainda estão
sendo levantados por pesquisadores da História que ainda está sendo escrita
pelo nosso povo em busca da redemocratização e agora, nestas manifestações dos
jovens nas ruas, procurando a democracia de verdade que ainda não existe no
país. Afinal, em que país do planeta existe realmente a liberdade? Pois é, este
mesmo sentimento da juventude de agora existia nos anos 60, 70 e 80 por aqui e
em todos os países, o movimento internacional dos jovens rebeldes eclodiu em
1968 na França e avançou revolucionariamente por todos os lugares do mundo, por
aqui também. Este movimento da cidadania hoje se assemelha em parte com a luta
da chamada Geração 68, de que eu fiz parte naquela época da Ditadura aqui. A luta da juventude avançou por todos os lugares do mundo,
até por aqui em Franca, no interior de São Paulo. A UNESP já fez duas ou três
pesquisas sobre este fenômeno, uma relativamente pequena cidade do interior,
vibrando junto com as grandes cidades brasileiras no movimento para mudar a
realidade. Não era só derrubar a Ditadura e sim também mudar a realidade, algo
que movia nos grandes ou pequenos centros do país os jovens, uns mais utópicos,
outros mais realistas, uns beatniks, outros tipo hippies, outros ainda que
idolatravam Chê Guevara e a revolução
socialista ou comunista, através de da
luta pacífica ou até armada, valia tudo para mudar o país e a vida. Eu me
integrei a este movimento cultural e político, com toda minha energia e
sentimento de época. Desde criança eu vinha tendo uma vivência cultural (música, teatro) e ao chegar a
adolescente me liguei ao Cinema Novo, liderado por Glauber Rocha, pertencia a
um cineclube que tinha uns 150 sócios, semanalmente nos reuníamos para assistir
filmes de arte (franceses, italianos, checos, etc.) e debater a realidade.
Neste clima, a partir da minha experiência precoce de teatro, criei o argumento
para um filme curtametragem e este pessoal todo me ajudou a realizar este
projeto, um deles (jornalista Magno Dadonas que viria a se suicidar em São Paulo já
pós-Ditadura), me ajudou a escrever o roteiro, outros atuaram na produção, no
levantamento de recursos, aí a partir do Cineclube da AEC realizei um
semidocumentário de meia hora, que envolveu tanta gente que acabou sendo
chamado de “Procissão de Coisa e Gente”. Um curta precário que recebeu prêmio
de fotografia e teve cópias exibidas pelo movimento dos jovens e dos
cinemanovistas de todo o país. Foi através destes fatos e do filme que me
integrei também à luta dos jovens então considerados subversivos, que lutavam
para acabar com a Ditadura, mudar o Brasil e a vida, como também queriam os Beatles,
os Rolling Stones e os rebeldes de todo o mundo na época. As drogas leves e
pesadas foram infiltradas também no movimento dos jovens, corriam livremente,
de graça, eu vivenciei este lado também daquela época, quando fumar um cigarro
de maconha equivalia a gritar pela liberdade. Sob a liderança de jovens até
mais politizados do que eu, alguns mais experientes, outros com menos cultura
mas todos com a mesma energia para ir à luta, começamos a nos organizar em
Franca, fazendo pichações, manifestações contra o preço do ingresso de cinema,
tudo o que pudesse mostrar a nossa revolta diante da realidade e até, estudando
a ideologia marxista, articulando ações para derrubar o governo ditatorial. A
esta altura, a rapaziada daqui do interior estava ligada cultural e
politicamente com o movimento dos jovens das grandes cidades também. O
suplemento cultural (num jornal da cidade) e as poesias que fazíamos eram
trocadas com as do pessoal de Salvador (Bahia), o meu pequeno curta era exibido
em São Paulo,
Rio, Belo Horizonte. Depois, quando começaram as prisões e já havia sido
decretado o AI-5 no mesmo dia em que foram presos os integrantes do jornal
alternativo Pasquim no Rio de Janeiro, nossa turma de subversivos era presa
também em Franca, Ribeirão Preto, Uberaba. Cheguei a participar de um festival
brasileiro de curtametragem, promovido pelo Jornal do Brasil do Rio, com outro
curta que produzi e dirigi com amigos e amigas, “Vida Negra Negra”, de 90
segundos: o filminho recebeu menção do júri do Festival JB mas foi recolhido
pela Censura, teve suas cópias apreendidas e desapareceu, iniciando o processo
de perseguição cultural de que fui vítima naqueles tempos. No caso do nosso
grupo de ação em Franca, além de pichações e variadas manifestações, estudávamos
e nos preparávamos para lutar com tudo, chegamos a treinar tiro e sobrevivência
no mato, pensando na possibilidade de um dia o movimento virar uma guerrilha.
Já então, participávamos de todo o universo da subversão ou anti-Ditadura, eu
me ligava a todas as tendências deste movimento. E por volta de 1970, quando a
repressão começou a aumentar, fomos todos ou muitos de nós presos em várias
regiões e cidades, alguns morreram, outros desapareceram, alguns enlouqueceram,
muitos de nós fomos presos e torturados, toda uma geração de jovens idealistas
sacrificados. Na primeira das quatro prisões que sofri, além das agressões
físicas que todos os jovens subversivos sofríamos, já comecei a sentir também a
tortura psicológica e a perseguição cultural. Um dos meus “entrevistadores” me
disse logo de cara: “Você quer fazer cinema? Só se for em Cuba, aqui você nunca
fará seus filmes”. Anos depois, quando eu já havia vencido um festival de
telepeças na TV Cultura de São Paulo, “Happy End”, uma sátira à televisão, às
novelas, à manipulação cultural, e então comecei a trabalhar na Blimp Filmes
(que fazia reportagens para os programas Globo Repórter e Fantástico), neste
tempo em que procurava me profissionalizar e me recompor após as prisões,
torturas, eu quase não falava, tinha medo até de falar. Tive roteiros que
escrevi para um programa de criança (Vila Sésamo) censurados, depois, 21
trabalhos ou projetos em especial em TV proibidos pela censura ditatorial,
alguns que já estavam em produção, como a série de documentários para a TV
Bandeirantes (o primeiro deles realizei e foi proibido, “Os Dramáticos Anos 70”), que era inspirado num
Globo Repórter que eu havia pesquisado, escrito e dirigido “Os Incríveis Anos 50” sobre as raízes do
movimento da juventude conhecido como Geração 68. Até uma novela, "Tic Tac", que eu
ainda estava escrevendo o 16º capítulo foi proibida e paralizada, quando já
estavam contratados atores e atrizes, como Bruna Lombardi e o diretor Carlos
Augusto Guga de Oliveira (irmão do Boni). Depois ainda, eu venci um Concurso
Nacional de Roteiros da então Embrafilme, mas não consegui ganhar o prêmio, que
seria a realização do meu primeiro longa-metragem “Fim de Semana no 3º Mundo”,
que teve seus originais destruídos, assim como os copiões e todo material de um
outro curta que eu ainda filmava, “À Beira”, sobre jovens vivendo à margem do
sistema em São Paulo. Enfim,
depois de preso por aqui e no DOPS, de sofrer torturas física e psicológica,
escapei vivo, mas continuei sendo perseguido até depois de 1986, quando
oficialmente já terminara a Ditadura no país. Por exemplo, foi estranhamente
interrompida a produção de um documentário “1999” para o que eu já tinha
produtor, elenco contratado e quando já estavam começando as gravações e
filmagens no Canal Independente em
SP. Não consegui fazer cinema nem TV normalmente, não pude
dar aulas mesmo tendo me formado em Letras, nem busquei o meu diploma de
Direito, prá não ser preso, quando então nesta época estava meio que
clandestino. Prá resumir a ópera, quando me soltaram, continuaram a me
perseguir no meu trabalho e na minha vida, fui um dos profissionais de TV mais
censurado do país, não consegui me afirmar como cineasta. Quando ainda nem
havia sido preso, ganhei uma bolsa de estudos de Cinema na Tchecoslováquia, mas
me impediram de tirar passaporte e de ir embora, prenderam a mim e ao
funcionário da embaixada deste país que então era socialista. Para sobreviver,
trabalhei como repórter do JT e outros jornais, escrevia artigos não assinados
para revistas, até estórias-em-quadrinhos, até para a Walt Disney, fazia
redação até em agências de publicidade, participava da realização de programas
de madrugada etc. Por ocasião do movimento Diretas Já, fiz um jejum público
para que houvesse eleições, dentro do espaço da Fundação Oscar Americano e
Maria Luíza (em frente ao Palácio do Governo do Estado em SP) porque até isso
foi proibido, cerca de 100 pessoas apareceram lá para se solidarizar comigo. E
a partir de então, comecei a me integrar ao movimento da Não-Violência, ajudei
o lançamento do filme do Gandhi no Brasil, participei da fundação do Partido
Verde (PV), me liguei na cultura alternativa, parei de fumar, de beber ou de usar outras coisas, virei vegetariano e passei a me
dedicar mais à luta ecológica, o que me levou a voltar pro interior, prá minha
cidade que fica em cima do Aquífero Guarany, por aqui atuei como repórter de jornais, rádios e TVs, até que agora após ter sido anistiado pelo Ministério da Justiça,
mantenho o meu próprio blog Folha Verde News e estou em meio à realização do
documentário “Não-Violência X Fim do Mundo”, através do que estou retomando ou
tentando retomar minha trajetória no trabalho com imagens, misturando TV, fotos
e cinema, em busca da linguagem multimídia e da liberdade que ainda não
conseguimos criar nem no Brasil nem no mundo. A luta continua. Eu agora estou
longe de ser um garoto, mas continuo integrado ao movimento de cidadania e da
juventude de hoje para mudar o Brasil e a vida... (Antônio de Pádua Padinha, repórter e ecologista, editor deste blog)
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Padinha relata a sua trajetória para estudantes de Jornalismo da Unifran... |
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...compara sua geração com a atual jovens do Facebook |
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...fala sobre censura vs. liberdade de informação |
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...resume o documentário "Não-Violência X Fim do Mundo" que está realizando |
Fonte: http://folhaverdenews.blogspot.com
O editor do blog Folha Verde News já havia dado um depoimento ao repórter Cássio Freires, da Rádio Imperador AM e se formando jornalista na Unifran, agora hoje, dá um outro, para Alline Casado, também estudante de Jornalismo e repórter de O Jornal, da cidade de Guaíra (SP): a aventura de um subversivo num país que ainda não se redemocratizou de fato.
ResponderExcluirQuanto ao blog, continuamos a dedicar o nosso webespaço às lutas da ecologia, da cidadania e da não-violência, com posts e comentários, com informações diariamente atualizadas, no sentido de estimular mudanças e avanços no Brasil, que precisa criar uma realidade sustentável para ter futuro.
ResponderExcluir"Precisamos criar todos juntos, pessoas de várias gerações e de variados setores da população, uma nova realidade no país", relatou aos estudantes de Jornalismo da Unifran o nosso editor de conteúdo, ao resumir a sua trajetória de luta que começou na época da Ditadura e se alia agora aos jovens do movimento de cidadania, que estão indo às ruas desde junho para mudar o Brasil.
ResponderExcluirO documentário "Não-Violência X Fim do Mundo" só deverá estar pronto e editado no ano que vem, devendo ser lançado durante a Copa do Mundo, aproveitando a exposição de mídia do país nesta época: continuam a ser feitas filmagens, gravações, edições, haverá um ator e uma atriz nacionalmente conhecidos como apresentadores e Padinha com este trabalho retoma a sua luta, que a Censura não conseguiu calar.
ResponderExcluirMande vc tb a sua opinião, seu relato sobre este tema ou seu comentário aqui pro e-mail do nosso blog: navepad@netsite.com.br
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