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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

HIP-HOP BRASILEIRO AVANÇA TAMBÉM ATÉ PARA SONS INDÍGENAS

Esse tipo de música e de poesia popular com muito balanço e rebeldia avança no Brasil



Jovens indígenas do Mato grosso gravam seu hip-hop com Milton Nascimento

O rap não é apenas urbano e hoje invade todas as culturas

O grafite, a dança de rua e a não-violência também fazem parte desta cultura

Outros artistas como Milton usam o hip-hop como linguagem na MPB, no rock...

...também nas ilustrações da arte contemporânea da juventude
Eju orendive é o nome de uma canção escrita em guarani por índios das aldeias Bororó e Jaguapirú, localizadas em Dourados, Mato Grosso do Sul. Só que o ritmo é hip-hop e a tradução da letra mostra a intenção de Eju orendive: “Aldeia unida mostra a cara/ Vamos todos nós no rolê/ vamos todos nós, índios festejar/ vamos mostrar para os brancos/ que não há diferença e podemos ser iguais”. A autoria é do quarteto Bro MCs, formado pelos índios Bruno, Clemerson, Kelvin e Charlie, que têm entre 18 e 20 anos. Em Belo Horizonte, a dupla Bruno Willians & Little G, de 24 e 25, também faz hip-hop de atitude. As letras são bem distintas. Na faixa Missionários, eles cantam: “Junto comigo está a história de Jeová/ Vamos revolver, eu tô pronto para vencer/ O maldito é quem duvida o bendito é quem confia/ Jesus está comigo 100% alegria/ Mudou a minha vida, mudou o meu ser, o que está esperando pra também mudar você?/ Missionário hey/ Missionário hou/ Missionário 100% na paz do senhor”.
Aos 41 anos, poeta que se considera comunista, Hertz Dias compõe, na mesma levada, para outro quarteto, o Gíria Vermelha, de São Luís do Maranhão. Lutar é preciso é o nome da música, que diz: “Vai à luta pois teu povo é pobre e sofre/ Se comover, qualquer um se comove/ Então mova-se pra ver se a coisa muda/ A arte pela arte pra nós é surda e muda/ Não, não fede e nem cheira, pra periferia tem que ir pra lixeira”. Na edição desta quinta-feira, 1º de dezembro, o site do jornal o Estado de Minas apresenta dois clipes para você conhecer algumas das músicas da atual geração de hip-hop: www.em.com.br


De onde vem a voz da periferia

Oriundos de realidades, culturas, regiões e convicções diferentes, a única ligação entre os três grupos é o hip-hop. Para eles o som sempre foi uma realidade, mas de formas bem distintas. Os índios começaram a ouvir hip-hop pelo rádio. Interessaram-se e decidiram escrever letras. Apresentaram-se na escola e a coisa foi tomando forma. Eles vivem como qualquer cidadão brasileiro: estudam, trabalham, ouvem rádio, têm celular e usam transporte público. Falam português e moram numa região marginalizada com outras 15 mil pessoas, beirando o limite da pobreza e sendo vítimas de preconceito pela cor da pele e pela origem. Apesar da vida exterior, dentro de Bororó e Jaguapirú ainda há caciques, conversa-se em idioma guarani e o índio Bruno garante: “Nada se perdeu da cultura indígena. É uma mistura”. Quem ajudou os Bro Mcs a gravar o primeiro CD foi Higor Lobo, coordenador da Central Única das Favelas, a Cufa de Dourados. O hip-hop tem a missão intrínseca de transmitir uma mensagem. A dos Bro é direta: “Queremos falar que o índio não é o que pensam: uma pessoa que podem agredir ou rejeitar. O índio é igual a eles. Somos todos iguais, não há diferença”, defende Bruno.
“A gente tem de acabar com esse processo de criminalização constante da juventude negra de periferia”, avisa Hertz Dias, que, com a Gíria Vermelha participa de um movimento ainda maior, o Movimento de Hip-Hop Organizado do Maranhão Quilombo. “A gente acredita que esses movimentos que surgem nas periferias das grandes cidades são de resistência e compostos pela maioria negra, como eram os quilombos”, explica Hertz.
Criado em 1989, o Quilombo tem coordenadores, movimentos de hip-hop, grafite, dança e DJs. Há 22 anos organiza o Festival de Hip-Hop Zumbi Vive, que há seis é precedido por uma marcha política. “Sociedade civil, movimento estudantil, movimentos populares e organizações sindicais realizam a Marcha da periferia, que deu um sentido mais político ao hip-hop”, conta Hertz. Este ano, a manifestação foi contra a criminalização da pobreza.
 Bruno Willians & Little G sempre estiveram ligados à arte das ruas. Dançarinos e bboys (o dançarino de break) sempre ouviram o hip-hop. Quando se conheceram, aos 18 anos, frequentavam juntos e freneticamente bailes funk de periferia. Little G lembra que eram os primeiros a chegar e os últimos a sair, dançando sem parar. Mas ele percebeu que tinha algo errado e começou a trocar os bailes pela igreja. “Esses lugares tinham drogas, segurança morrendo, tiro na portaria, ralação, pegação. Aí, fui mostrando ao Bruno o que tínhamos na igreja e ele foi escutando a palavra”. Foi assim que decidiram conversar sobre outras possibilidades e perceberam que tinham, em comum, letras de hip-hop prontas. Formaram o WG Hip-Hop, que já tem cinco anos de carreira. “Nesse tempo, só houve seis sábados em que não ministramos”, comemora Little G.  Detalhe, na linguagem deles ministrar é se apresentar em público.

O movimento hip-hop cresce para todas as direções culturais do país hoje

Bro MCs já apareceram na MTV, foram convidados pelo Ministério da Cultura a se apresentar ao lado de Milton Nascimento. Para o quarteto, é tudo motivo de orgulho. “É uma satisfação. O que estamos fazendo é levar conhecimento daqui para os não índios, para que eles saibam como é a realidade daqui”. Na estrada desde 2009, em janeiro os Bro MCs lançam o segundo CD, por enquanto ainda sem nome.
Para Hertz, da Gíria Vermelha, a música sozinha não consegue mudar tudo. “O hip-hop informa, mas não necessariamente politiza. Ele sozinho não vai organizar um movimento na periferia. A cultura hip-hop entra como mecanismo de sensibilização, para que essa juventude possa reivindicar melhorias para seus bairros e cidades, além de compreender o que é capitalismo ou machismo, por exemplo. Isso dentro do processo de organização política”. 
A banda de hip-hop originada nas tribos Bororó e Jaguapiru por sua vez se aproxima mais da arte e cultura alternativa ligada ao movimento ecológico e de cidadania, em que também artistas como Milton Nascimento e Fernanda Abreu estão ligados, daí se procuram em seus trabalhos.
Bruno Willians e Little G também já têm algumas faixas gravadas. Mais ativos nas redes sociais, têm canal no Youtube e Myspace e divulgam seus trabalhos sociais em outros sites – eles ensinam música e dança a crianças e jovens. O disco WG hip-hop gospel 100% na paz do Senhor é vendido nas apresentações. Mas há muitas faixas disponíveis para ouvir on-line. Diferentes das duas outras bandas de hip-hop apresentadas hje aqui, Bruno e Litle fazem questão de encerrar pedindo que Deus nos abençoe imensamente todo dia, toda hora.

             http://folhaverdenews.blogspot.com/

3 comentários:

  1. A cultura hip-hop acaba sendo uma prevenção diante da violência do dia a dia da realidade urbana e também rural ou até no cotidiano dos povos da floresta. O rap e o futebol quebram barreiras.

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  2. A multicultura da atualidade exige quebra de preconceitos e de guetos, há trabalhos que podem ou presicam fundir todo tipo de cultura viva para pode alcançar a exporessão da realidade de agora.

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  3. Também por aqui na região nordeste paulista há um movimento muito grande da juventude hip-hop, com várias tendências e formas, que se baseiam na criação e na rebeldia de pioneiros como por exemplo, Kaos, ligado à origem da cultura alternativa e negra, componentes da formação do nosso universo cultural e da nossa população.

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