Altino Machado, repórter do site Terra, nesta parada para descanso de Marina Silva, lado a lado com familiares em seu apartamento funcional em Brasília, concedeu entrevista, falando de sua vida pessoal, de sua visão de tudo o que aconteceu nestas eleições agora e de suas perspectivas para o futuro. Resumimos alguns dos principais pontos desta reportagem, às vésperas da decisão do PV e dela também sobre que caminho tomar no 2º Turno.
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Terceira colocada na disputa presidencial no primeiro turno, a senadora Marina Silva (PV-AC), se tornou o centro das atenções do País porque uma decisão dela em relação aos candidatos que disputam o segundo turno é capaz de influir no destino eleitoral de José Serra (PSDB), de Dilma Rousseff (PT) e de próprio PV.
Após 16 anos morando em Brasília, a senadora abriu pela primeira vez as portas do apartamento funcional onde vive com a família para atender a um pedido de entrevista. O Terra presenciou-a lendo a Bíblia, arrumando gavetas, vasculhando estantes com livros e ouvindo o marido Fábio Vaz fazer a leitura de revistas e jornais. Marina Silva não conseguiu conter a emoção e o choro ao lembrar dos ensinamentos da avó no Seringal Bagaço, no Acre, de onde saiu apenas com um saco de pano nas costas e poucas mudas de roupas dentro, para começar a sua trajetória de vida...
Mas mesmo quando tenta voltar à rotina caseira e descansar dos estafantes meses de campanha, ela continua a refletir sobre a surpreendente virada política que a deixou com quase 20 milhões de votos no final do primeiro turno. "Agora é o momento de fazer uma espécie de desaceleração e de criar um espaço de reflexão, de conversas, de escutar e também de me escutar. O desafio é não sofrer de ansiedade tóxica, de querer puxar pra si, como se tudo isso pudesse ser privatizado ou particularizado. O desafio é ver tudo isso que aconteceu como algo grandioso, que precisa ser investido, trabalhado, para que, de fato, esse embrião possa se estabelecer como uma terceira via, uma alternativa para o Brasil".
..."quando a gente está bem, fazendo aquilo no qual acredita, que gosta, sem a ansiedade tóxica de quem tem que ganhar a qualquer custo, os resultados surgem como consequência. Fizemos a opção de nos orientarmos por programa e não pelo velho pragmatismo que leva muitas vezes às alianças e companhias inconvenientes".
"Agora é hora de criar um espaço de reflexão, de conversas, de escutar e também de me escutar. Estou num processo muito intenso de decisão até o dia 17 de outubro. Quero que a minha decisão seja a melhor possível para o Brasil, para as pessoas que se referenciaram no projeto que representei, juntamente com o Guilherme Leal, e nos ideais que tenho, que o segundo turno eleitoral de fato favoreça à democracia, o aprofundamento das questões importantes para o País, que não resvale de novo para o vale-tudo eleitoral e que a gente tenha uma atitude à altura do que o Brasil exige que tenhamos".
Terra - É desconfortável ou não esse momento, quando o País inteiro indaga sobre qual será a sua posição no segundo turno?
Marina Silva - "Não é desconfortável. É até muito instigante. Geralmente, na forma antiga e da velha política, a liderança sempre tem aquela ideia de que deve convocar e os seguidores irem após a liderança. Não vejo um grupo de seguidores, mas um contingente de parceiros que estão preocupados em trocar comigo o que eles acham que é melhor para minha contribuição nesse segundo turno. Esses parceiros estão interessados, ainda, em saber qual é a contribuição que eu, o PV e todos aqueles que estavam dando suporte programático e político à candidatura, podemos aportar para eles. Há uma sensação de troca e isso faz com que o processo seja vivo e muito interessante do ponto de vista político e pessoal. Eu sempre defendo que os processos se dêem em co-autoria, e a ideia de responsabilidade de cada sujeito com a sua atitude. Tem uma frase que diz que tudo o que uma liderança democrática pode fazer é acenar com a possibilidade de um mundo melhor. Só os déspotas oferecem um destino para as pessoas. O destino não é oferecido por ninguém. Somos nós que temos que construir a nossa história. Somos nós que podemos nos dispor a sustentar o outro e a ser sustentado, a escutar e a ser escutado, a perceber e a ser percebido".
Terra - O que a senhora prefere que aconteça em relação a tudo de positivo que aconteceu para o País com a sua candidatura?
Marina Silva - "Eu prefiro ter milhões de parceiros, o que faz com que a relação seja muito mais sólida e rica. Tem algo que foi construído coletivamente, que é a base dessa relação: as propostas que foram apresentadas; a forma como o processo foi vivenciado; as atitudes; a linguagem, que não é apenas daquilo que se diz, mas da forma como você se comporta e se dispõe a escutar mesmo em meio a um turbilhão de vozes; a não se perder na gesticulação; saber que mais vale um gesto limpo do que uma gesticulação que, de alguma forma, polui a imagem na tentativa de seduzir".
"Isso é fonte de força, de uma profunda convicção de que essa coisa maravilhosa que Deus nos deu, chamada de inteligência, não pode ser desperdiçada em maquinar o mal, ainda que ele esteja presente e faça parte de nossa natureza. O bem é um investimento, uma prioridade, uma afirmação, uma escolha, o que pressupõe trabalhar para construir aquilo que você escolheu. Eu fui fazendo escolhas aparentemente impossíveis. Você me pegou de surpresa ao fazer me lembrar disso e agora eu respondo: tudo valeu a pena porque hoje eu posso sorrir e dizer que aquelas lágrimas semearem muita esperança para mim, para minha família e para os ideais que eu acredito".
Terra - O que você pretende com a experiência acumulada na vida e que culminou com os seus 20 milhões de votos?
Marina Silva - "O mais importante é não querer privatizar tudo isso, como se fosse algo meu, mas democratizar ao máximo como sendo algo nosso. Passa por minha cabeça algo a ser pensado na relação com o partido, com a sociedade, com os formadores de opinião, com os agentes governamentais, empresariais, da academia e dos movimentos sociais. O desafio é não sofrer de ansiedade tóxica, de querer puxar pra si, como se tudo isso pudesse ser privatizado ou particularizado. O desafio é ver tudo isso que aconteceu como algo grandioso, que precisa ser investido, trabalhado, para que, de fato, esse embrião possa se estabelecer como uma terceira via. Tenho muita clareza de que essa utopia, de uma terceira via, é apenas um começo, como diz Edgar Morin. Mas ele diz também que no começo a mudança é apenas um desvio e que a gente tem que trabalhar para fazer o desvio prosperar. A eleição de 2010 fez esse pequeno desvio. Caberá a todos, de forma coletiva, fazê-lo prosperar".
Além da longa entrevista, várias fotos, como por exemplo ao lado da filha Moara, o Terra Magazine apresenta um box com informações de atualidade em links relacionados, num deles, Marina diz que candidatos apostam no 'vale-tudo' em debate
Fontes: Terra Magazine
http://folhaverdenews.blogspot.com/
Lição da vida...
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